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Os pesadelos de Joseph

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Um pesadelo sempre foi um sonho primeiro.

O Nobel da Economia Joseph Stiglitz tem uma opinião sobre Portugal.

Ele entende que a nossa vida será melhor fora do Euro.

É uma opinião, como outras. Há tantas, sobre Portugal.

O que Joseph, ou talvez José, Stiglitz quer dizer é que se Portugal continuar integrado na Moeda Única a morte é certa.

Ele entende que a Europa devia começar a pensar em divórcios amigáveis.

Eu, que nunca serei Nobel, entendo o mesmo.

Não sou Nobel, mas também não sou masoquista.

Custa mais ficar do que sair.

E, custa, porque a União Europeia tem a palavra união a mais no seu cartão de cidadão.

O mind map está claramente desenhado, os países fortes, em cima, os países atacados, em baixo, e os países nem carne nem peixe, não se dá por esses, algures.

Os países fortes vivem aparentemente saudáveis, não pretendem, nem vão criar condições políticas para provocar as mudanças que eram fundamentais, que podiam criar união e justiça.

Os países atacados ( porque é de ataques que se trata, não é de união) vivem com uma coleira, puxada pelos países fortes, apertando o pescoço até faltar o ar, respirando a espaços, num perpétuo movimento.

Os países nem carne nem peixe são os outros todos.

Desenho:

Tirando a Alemanha e a França, Portugal e a Grécia, basicamente é isto, foi isto que “português” José Stiglitz terá tido no pensamento quando tornou pública a sua opinião.

A União Europeia é filha de uma ideia que já nem o nome de família ostenta.

Quando a CEE, em Março de 1957, veio ao mundo, ela trazia consigo o seu próprio ADN. Criado  com alguma paixão, a pouca que os números conseguem transmitir.

Aquilo em que se tornou, quase 60 anos depois, foi numa gaja rude, com pêlos nos sovacos, hálito a tabaco, misturado com cerveja, bem vestida e penteada, cheia de rímel, loura, gastadora, mas exigente com os gastos dos outros.

A União Europeia é muito parecida com a senhora Judy Moncada, uma colombiana de uma série de televisão que ando a seguir.

Havia vida em Portugal, antes de 1985 ( ano da assinatura da adesão como estado-membro ).

É incrível que, até mesmo antes da crise – com origem nos EUA –, Portugal tinha vida própria.

Mais incrível é, se pensarmos um pouco, saber que Portugal tinha vida até mesmo dentro da CEE, e depois dentro da UE, imediatamente antes de uma crise que dá jeito, porque as crises têm fim e esta não.

Se a Inglaterra pode decidir, e bem, sair da UE ( nem nunca esteve na Moeda Única), se pode continuar a operar nas áreas-chave, na livre circulação, no comércio, nas exportações, então Stiglitz tem razão, e nós, os Josés, estamos em comunhão de ideias.

Se os outros pode continuar vivos, Portugal tem o mesmo direito a viver, já fustigado até à exaustão.

Que sentido faz estar em união, quando não há união, apenas aguardando o último suspiro. Unidos nunca venceremos. Os tempos também mudam.

As políticas de austeridade impostas pelos alemães permanecem iguais, impostas.

O FMI é como calha, tanto se lhe dá como se lhe deu, desde que o fluxo dos cofres não abrande.

Quando o FMI acorda a austeridade (dos outros) é má, quando se deita é boa.

Na verdade, a actual líder do FMI e o anterior líder do FMI, estão a contas com a justiça, embora mandem nisto tudo.

Lá como cá.

O ministro das finanças alemão também disfarça bem.

Tem se ouvido pouco, andará a preparar alguma, é um eterno insatisfeito, aquele avozinho, com ar que me traz à memória coisas horríveis.

Eu acho que ele tinha amado ter nascido português, ter o passaporte, vá, pelo menos.

É aí que reside o berço do seu ódio aos homens e mulheres que andam de manga de cava e chinelos.

E, depois, vinga-se, claro.

Bem feitas as contas, como consequência, discutem-se décimas de défices.

Apenas isso.

Portugal não cresce, não cria emprego, não consegue pagar a dívida, nunca vai conseguir. Trata-se de manter mínimos. Bom, de chegar aos mínimos.

Fora do Euro, diz o Nobel, o homem não é um homem qualquer, é um Nobel, Portugal teria condições para crescer, criar emprego e reformular a dívida.

Não é fácil, mas uma vez a dívida estruturada a moeda cresceria.

Eu limito-me a escrever, é o outro José quem o diz.

Sintomático;

no dia seguinte, várias opiniões públicas em sentido contrário, que vem aí o Armageddon, que quem comer framboesas jamais terá filhos, acho que li até que a terra era plana.

Fazem crer que Joseph está a sonhar, e abanam José, para que o sonho se afigure a um pesadelo.

Esquecem-se que há, na maioria das vezes, um acordar.

Na verdade, o horizonte visto da praia parece horizontal, daí o termo horizonte.

Mas, nós sabemos que a terra é redonda, que é uma ilusão de óptica, um erro de apreciação.

E, gira, a terra.

Quando as cabeças dos portugueses, das pessoas, começarem a girar livremente, sem caças aos pokémôns, que isso é coisa de loucos, quando Portugal pensar pela sua própria cabeça, cada um de nós, inteligentes, fugidos das pulverizações mediáticas, decidirmos pensar, provocar raciocínios, as nossas convicções e as nossas ideias serão, seguramente, límpidas, certeiras, firmes.

União, é essa a palavra, como quando o Éder marcou aquele golo em Paris.

Até lá, os profetas apenas oferecem desgraça, de braços abertos, contemplando a multidão.

Guerrilheiros.

O José, não. Nem guerrilheiro, nem sicário, apenas Nobel.

O José mostra uma rota, armadilhada no dia seguinte, pelos guerrilheiros de sempre.

O José, que é Nobel, não deve saber do que fala.

É pertinente achar-se que é mais fácil ser-se caça-fantasmas do que Nobel.

Afinal, a saída do Euro é como a morte, nunca ninguém de lá voltou para contar como foi.

Só os fantasmas.

E, sobre isto, penso que nem os caça-fantasmas, nem sequer o Nobel pensaram.

Ser-se guerrilheiro pode até ter a sua dignidade, mas ser-se sicário contém em si muito mais honra, ora perguntem à senhora Judy Moncada.

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