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Primavera Castrista

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A chegada ao poder de Raul Castro e o reatar de relações diplomáticas entre Cuba e os EUA, veio trazer esperança numa possível abertura do regime socialista cubano ao mundo. Situação muito semelhante ocorreu em Portugal, em 1968, quando Marcelo Caetano subiu ao poder para substituir o “adoentado” e inválido Doutor Oliveira Salazar. Ambos, Caetano e Castro chegados ao poder com idades avançadas, prometeram empreender reformas profundas em termos sociais, económicos e políticos. Caetano começou por libertar alguns presos políticos e permitir o regresso de vários exilados, alterou o nome da PIDE e suavizou as práticas de tortura e a censura aos meios de comunicação, permitiu a presença no parlamento de uma ala liberal e ainda iniciou a construção dos primeiros resquícios da Segurança Social em Portugal. Da mesma forma, Raul Castor criou uma agenda reformista, incluindo 313 medidas como a eliminação dos subsídios e controlos de preços sobre os bens alimentares, a libertação de presos políticos e permitiu o surgimento de um pequeno sector privado com liberdade para prosperar. Por seu turno, Marcelo Caetano promoveu a reabertura de Portugal à Europa através da adesão à EFTA, o que conferiu um impulso extraordinário à economia portuguesa, facilitando o prolongamento em termos financeiros e diplomáticos da guerra colonial. Paralelamente Raul Castro, a braços com um regime falido e na ausência de petróleo a preços de saldos e outros subsídios vindos dos países da América latina, com destaque para a Venezuela e a Bolívia, decidiu reatar relações políticas e diplomáticas com os EUA. Este reatar de relações facilitará o resgate das remessas dos emigrantes e o aumento dos números de turistas e investimentos americanos no lucrativo sector turístico da ilha de Cuba, que assegurarão a chegada de um precioso balão de oxigénio financeiro, sob a forma de dólares, que prolongará a “vida” da elite socialista cubana. No entanto, a Primavera Marcelista seria de curta duração, uma vez que rapidamente o presidente do conselho ficaria enredado numa teia de interesses liderada pela PIDE e acentuada pelas corporações e grandes latifundiários, o que inviabilizaria a progressiva passagem de Portugal, de uma ditadura para um regime mais brando e próximo de uma democracia parlamentar.

Da mesma forma, Raul Castro parece estar a abrandar os progressos realizados nos últimos meses, ao demitir um dos seus principais conselheiros económicos norte-americanos por espionagem, ao empreender uma nova vaga de detenções por motivos políticos e ao restabelecer os subsídios e o controlo de preços sobre os bens alimentares. Incapaz de realizar a reforma económica, social e politica vertida no plano de 312 medidas, das quais apenas 21% foram executadas e com medo de perder o apoio dos 670 mil membros do partido comunista cubano, muito provavelmente o irmão de Fidel Castro acabará por não conseguir dar o passo na direcção correcta.

O maior erro de Marcelo Caetano foi tentar prolongar até à exaustão, uma guerra política e economicamente insustentável. Resta saber, se Raul Castro irá cometer o mesmo erro e tentar alimentar um regime político insustentável e falido ou se irá estar à altura de corresponder às expectativas de milhões de cubanos. Relembre-se que ficar na história não é a mesma coisa que fazer história.

 

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