Após os longos, duros e muito difíceis 48 anos de um “Portugal amordaçado”, a Democracia ainda pouco nos trouxe daquilo que tanto nos prometeu e dos sonhos que produziu. Hoje, estamos confrontados com uma persistente e transversalmente reconhecida crise de valores e das instituições (mas será que nessa matéria algum dia vivemos bem?!), não se vislumbrando contudo, um gesto de derradeira boa vontade; um exercício de arrependimento e vontade colectiva – um pacto talvez – que ouse trabalhar para verdadeiramente estabelecer os indispensáveis e estruturantes alicerces da democracia representativa: um movimento em busca da confiança perdida e a falta de sinceridade, arrastada por escândalos, hipócritas manobras de sedução – com tanta mentira à mistura – com uso e abuso do dinheiro dos portugueses-contribuintes (incluindo os 95 biliões de euros que a Europa nos confiou para investir no desenvolvimento do País), torrado em actos de pura propaganda, ditados por aparelhos técnico-eleitorais de duvidosa qualidade, que em nada têm contribuído para melhor e mais séria democracia – bem antes pelo contrário!
Será que já não é mais do que tempo de reformar a causa primeira de tudo isto: todos os mecanismos electivos?! Certo é que, mais que nunca, os portugueses interrogam-se, com toda a justeza e propriedade, se as tão apregoadas “reformas estruturais” serão as mais correctas, as mais desejáveis e a quem realmente servem, para a indispensável modernização e desenvolvimento do país; para mais e melhor justiça social, acompanhada de uma mais correcta e saudável distribuição da riqueza, sem que haja lugar ao permanente endividamento; para prevenir, evitar e pôr cobro aos abusos e sequentemente impedir que o poder regulador do Estado seja exercido, a montante, por aqueles que têm “as mãos no poder” e que através de consultores jurídicos, lobistas encapotados, amigos…determinem e mandem que se publique diplomas, despachos, etc., que têm a quase única virtualidade de superior interesse nacional (?) de aumentar o seu já desmesurado poder económico e político, e enriquecer mais uns 10, 20, 30 milhões de euros por dia, à custa do sangue de hoje, porque para eles, tal como tão bem gostam de afirmar “o Futuro a Deus pertence”.
Essa gente instruída nas melhores Escolas Internacionais de Direito e de Negócios, que frequenta os mais selectos e electivos clubes da capital, degusta sardinhas de escabeche com um Barca Velha 99, fuma Cohibas de 50 euros por unidade (para subsidiar a depauperada revolução cubana), sabe muito bem como, quando e daquilo que fala: gente especial, figuras públicas, que nem preocupados estão em ao menos parecer sérios. E com a “bênção” da comunicação social – ora próxima ora hostil – conforme a natureza e dimensão dos interesses conjunturais dos proprietários dos títulos, os nossos políticos indígenas tornaram-se pessoas que não se comportam nem são vistas como o comum dos mortais: condutas inqualificáveis ou despudoradas tornaram-se frequentes na vida política nacional, ao ponto de o “Zé da rua” afirmar, com a maior das tranquilidades: “isto não vai dar em nada! São políticos e está tudo dito. No fim safam-se todos uns aos outros e o povo é que vai pagar com mais impostos e maiores sacrifícios”. Nascidos para sofrer e para emigrar – será?!
Nada receosos que um dia “o céu lhes pode cair em cima das suas cabeças”, por força dos seus estúpidos erros de avaliação sobre os humores do dócil e manso povo, tornaram-se indivíduos olhados com um misto de enorme desconfiança, sobranceira e falsa reverência, enquanto grupo social específico, que teme em publicamente reclamar melhores salários e modernas condições para um bom exercício das suas funções, optando por praticar um estranho e nada abonatório “jogo de sombras”, bem às vistas dos governados mais atentos e informados, contabilizados os benefícios – directos e indirectos – que recolhem durante e depois da sua passagem pela vida política: umas poupanças para o “pé- de- meia” dos sobrinhos residentes na Suíça.
Porém, o que mais nos enoja e revolta é que milhares de portugueses: do político ao doutrinário; do capitalista ao filósofo moralista; do revolucionário ao pacificador; do socialista ao neoliberal – à semelhança de milhões de pessoas na Europa das tão proclamadas liberdades, direitos do Homem e da propagandeada riqueza – experimentam hoje o amargo travo de uma globalização neoliberal anti-social, ditada e imposta às diferentes “classes políticas” por um capitalismo selvagem e insaciável, de matriz anglo-saxónica, gerador das mais horríveis formas de desemprego e de miserável precaridade – com crónicas há muito anunciadas pelos tão amaldiçoados e vilipendiados ”profetas da desgraça”- acentuando o retrocesso das conquistas da nossa civilização, pelas quais lutaram e deram a vida gerações de europeus e americanos.
Escamoteando a verdade, os políticos, quais Quadros Superiores, seguem à letra as ordens dos seus senhores, com políticas enformadas nas tão reclamadas reformas dos vários sistemas do Estado Social: tudo em nome de uma competitividade defendida e estimulada por quem está disponível para tudo, a fim de assegurar o seu bem-estar e luxuosa sobrevivência, nem que para tal – mesmo afirmando aos berros que se está a fazer o maior número de reformas de que há memória no pós-25 de Abril ou o melhor a bem da Nação – entregue o seu povo/eleitorado às modernas e subtis formas de escravatura do séc. XXI: é o nivelar por baixo sem compaixão e sem futuro……assim manda quem “pagas as contas. Mas os “disfuncionais” seremos sempre nós!!!