Devo dizer que não gosto mesmo nada de uma certa tendência para o «nim» que tem vindo a verificar-se em certos artigos de opinião na imprensa periódica portuguesa de referência. Polvilhados de «bitaites» irónicos, geralmente bacocos, de argumentos dúbios e redigidos em linguagem e estilo pretensamente modernaços, esses artigos dão quase sempre uma no cravo e outra na ferradura, sem nunca acabarem por pender claramente para um dos lados. Há que manter uma certa dose de ambiguidade, sem ultrapassar o main stream politicamente correcto, não vá a coisa desagradar totalmente a gregos e a troianos. Há que saber manter todas as portas abertas! O pior (ou o melhor, depende do ponto de vista), contudo, é que muitas vezes nem os próprios autores sabem bem de que estão a falar. Convenhamos que esse tom intencionalmente ambíguo até dá um certo tom mais intelectual à coisa.
Não estou obviamente a defender, por outro lado, aqueles artigos inflamados que denotam uma visão simplista, a preto a branco, do mundo cada vez mais complexo em que vivemos. Estou a falar de artigos descomprometidos que, propositadamente, não são carne nem peixe. E que, por isso mesmo, tendem a suscitar (hélas!) polémicas completamente imbecis nas redes sociais, para gáudio dos seus vaidosos autores, geralmente ainda mais imbecis. Estou a falar de uma certa forma frouxa, mansa, pretensamente «pós-moderna» (seja lá o que isso for!) de escrever artigos de opinião. Na ânsia da inversão auto-encenada e fútil de estereótipos, esse género de artigos acabou por se estereotipar. Na verdade, como dizia Pessoa, «uma opinião é uma grosseria, mesmo quando não é sincera». E do que eu gosto mesmo é de «grosserias» destas, redigidas de forma clara, sem ambiguidades, e portadoras de pontos de vista fortes, objectivos, fundamentados, persuasivos e desassombrados. Do que eu gosto mesmo é de «grosserias» passíveis de me fazerem ponderar, e eventualmente mudar, as minhas próprias «grosserias». Felizmente, ainda há por aí muitas.