A primeira, e mais lógica, resposta que nos apetece dar é: o Governo, através do Ministério da Saúde. (Tendo em conta que Médicos, TDT’s, Nutricionistas, Psicólogos e Farmacêuticos já viram suas carreiras revistas nos últimos dois anos)
Mas, será tal suficiente para justificar tamanha embirrice e preconceito contra os enfermeiros (Simplesmente a espinha dorsal, o maior grupo profissional na área da Saúde que está junto do doente 24 horas) ?
Não, não é.
É consabido que o Ministro da Saúde é um fã, numa relação de sentimento recíproco , do sector privado da saúde. Aliás, consta que mesmo antes do resultado das eleições de 2015 ser conhecido já os privados tinham feito chegar ao PS que, caso ganhasse, o Ministro deveria ser alguém como o actual, e idealmente ele.
Alguém que mantivesse PPP, ADSE e outras coisas que são o garante de vida dos privados (e a ver vamos onde vai parar a história da liberdade de escolha do hospital…) Portanto, uma ascendência política que se confirma e cujo casamento foi certamente apadrinhado pelo actual presidente da república.
Mas qual o interesse dos privados na questão dos Enfermeiros? É que qualquer melhoria no sector público representa pressão sobre o sector privado, que na saúde é menos representativo (ainda) que o público.
No caso dos médicos é ao contrário, dado que ganham bem mais no privado do que no público. Aliás, é lá que fazem dinheiro a sério. No caso deles, a pressão funciona ao contrário. Se o público não quer perder os melhores para o privado, tem de pagar mais. Assim se justifica o aumento de 43% de vencimento com o ACT de 2015, cujos valores querem agora manter mas com redução de parte da carga de trabalho associada.
E a esquerda? Onde anda a esquerda que eu defendo que é tão feroz contra os privados e que se indignou com a situação da PT e da Autoeuropa?
Essa esquerda sabe que está de mãos e pés atados na geringonça, e sabe que atacar uma injustiça que ocorre no sector público é atacar o governo e consequentemente a sua própria manutenção no poder.
Infelizmente é uma esquerda de circunstâncias, e não de princípios. Partidos como qualquer outro.
E à direita? Ora, parte da direita vai alimentando a própria contestação por via de actores-chave (sendo certo que daqui lavará as mãos quando já não lhe for conveniente) e sabe que não pode aparecer a defender justiça para os enfermeiros porque isso contrariará o discurso austeritário que teve durante 4 anos e que mantém.
Os Enfermeiros com responsabilidades políticas, na DGS e nas Comissões de Reforma do SNS também nada têm a dizer sobre o momento atual? Estão à espera das eleições para dizer alguma coisa?
Concluindo, os Enfermeiros estão entregues a si mesmos, sendo certo que outros inimigos aparecerão, como é o caso da Ordem dos Médicos que em mais um exercício de demagogia e sem qualquer pingo de vergonha na cara veio afirmar que os médicos substituirão os enfermeiros nos partos.
Portanto, irão substituir quem já os substitui (e não é só dos partos que estamos a falar…)?
O SNS está “a arder” e parece que não há ninguém para ser responsabilizado politicamente… já agora, o presidente dos administradores hospitalares, tão afoito em debitar opiniões sobre tudo e mais alguma coisa, acha que é assim que se gerem recursos humanos? Ou acha que problemas de recursos humanos é a forma como os administradores são nomeados?
Esses sim, devem fazer muita diferença a quem entra por uma urgência adentro…