A Cultura é sempre “pedra de toque” de qualquer programa autárquico. Começa-se por escrever que se vai aumentar o orçamento, depois debitam-se uns clichés sobre trabalho em rede, tempera-se com umas referências às personalidades e temas da moda e, por fim, conclui-se que a nossa cidade tem de se afirmar por si própria no panorama internacional!
Neste mandato autárquico de Rui Moreira há claramente dois momentos: um com Paulo Cunha e Silva (PCS) e outro depois de Paulo Cunha e Silva. Em nossa opinião, apesar do excesso de “contemporaneidade” e de “futuro”, o então Vereador definiu uma estratégia: a cidade como o “equipamento” principal das atividades culturais. O conceito de “cidade líquida” inspirado em Zigmunt Bauman. E concretizou projetos muito interessantes!
Hoje, Rui Moreira vive ainda do que lhe deixaram. E, não encontrando na sua equipa mais alguém capaz de assumir o Pelouro, após o trágico desaparecimento de PCS, ficou com ele… Quando acabar o que o então Vereador idealizou, irá regressar à cultura avulsa e comprada, como nos tempos do Partido Socialista. Se do seu Vereador da Cultura herdou uma visão, de Rui Rio herdou a Cultura como alavanca da Coesão Social. Mas ignorou esse caminho e não tem completado essa visão.
E do que recebeu (leia-se: de Rui Rio) destacamos por exemplo, de entre 5 ciclos musicais, o “ Um Recital e uma Obra de Arte”, ou o “Fado no Museu”, a criação da Orquestra Juvenil da Bonjóia, o “Troque” (livros) na BM Almeida Garrett, as “Memórias com Sabor”, “Os Poemas saem á Rua”, o “Porto de Crianças”, o “Sair da Gaveta”, “A Rota dos Museus”, o “Música para Todos”, o “Documento do mês fora de portas”, a criação dos “Circuitos Gastronómicos”, as diversas Visitas e Roteiros, o programa “Sentir o Porto através da Escultura”, o programa “Fazer e Aprender” entre muitos outros! Ou seja, de entre os 296 Projetos e Atividades de diversas tipologias dos mandatos do PSD, Rui Moreira aproveitou muito pouco. “Isto” da Cultura não começou em 2013…! E sem ultrapassar os orçamentos no consulado de Rui Rio. O que significa que para haver “Cultura”, não é preciso despejar milhões…
E, para além disso, não era necessário ter ido buscar uma Diretora Municipal da Cultura a Lisboa! O Porto tem profissionais e agentes culturais da mais elevada competência, visão e qualidade. Mas Rui Moreira, já o sabemos, combate o centralismo aliando-se a Lisboa…
Só assim, com o branqueamento de um passado muito recente, se pode afirmar, por exemplo, (como já foi dito) que “agora, finalmente o Porto tem a sua Galeria Municipal”. Pedimos desculpa por incomodar, mas a Galeria Municipal da Biblioteca Almeida Garrett, pelo menos entre 2010 e 2013 funcionou sempre, teve sempre programação diversificada, inovadora, foi um espaço de primeira água para cidade como, aliás, os restantes equipamentos culturais do município. Não descubram a pólvora! Ah…e teve sempre públicos em número de fazer inveja a muitas “Catedrais” ou “Templos” da Cultura!
É preciso envolver as Juntas de Freguesia num projeto cultural de cidade, mas também as famílias, as Instituições de Solidariedade Social, as Universidades, toda a nossa História e o nosso Património e também toda a região norte (sem comprar guerras com a Galiza ou municípios próximos…).
Será preciso agora uma outra visão: menos mainstream, menos futurista, mais territorial, menos lobística, mais educativa e mais social. Não é o que temos. Pode ser que as coisas mudem…
Pedro Sampaio