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GANHAR PARA QUÊ?

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Muito rapidamente vamos ver precipitarem-se no espetro político nacional milhares de candidatos com um objetivo comum: – Ganhar as Autárquicas.

A pergunta que se exige e que todos os eleitores deveriam exigir fosse respondida com toda a clareza pelos candidatos que lhes vão pedir o voto, é : – Ganhar para quê?


O Poder Local foi a seguir a 74 o verdadeiro motor que alterou profundamente não só o “desenho” de um país pobre, atrasado e deprimido, mas sobretudo as condições de vida dos portugueses.

Foi o tempo de construir as infraestruturas básicas, de rasgar estradas e caminhos, de levar a eletricidade e a agua ao domicilio, de construir o saneamento e uma rede de recolha de lixo. Foi o tempo de pensar nas pessoas e nas suas necessidades, foi o tempo em que as pessoas viram claramente, pelas alterações promovidas ao seu quotidiano e condições de vida, a verdadeira chegada do Abril prometido.

A segunda fase, muito por força do “despejar” de dinheiro dos fundos comunitários a que foi acrescentada uma divida em muitos casos insustentável, fez ruir muita da credibilidade e prestigio político acumulado pelos autarcas. Foi o tempo dos pavilhões e piscinas em cada freguesia, muitas com uma população envelhecida que indiciava o abandono a que muitos hoje estão votados e pior que isso sem se acautelarem os custos de manutenção, em muitos casos absolutamente insustentáveis.

Por tudo isto, hoje deve exigir-se muito mais dos autarcas, e ter muito mais cuidado com a escolha. Uma escolha impensada terá custos acrescidos para as pessoas e vai muito rapidamente relegar os concelhos servidos por autarcas sem capacidade de planeamento e de gestão dos múltiplos interesses e oportunidades que vão surgindo, para a cauda do desenvolvimento, de regresso ao atraso e à falta de coesão territorial que era a imagem de marca do antigo regime.

Hoje ninguém ousa sequer pensar que o poder se pode manter pela ignorância e isolamento dos eleitores, mas a falta de realismo e capacidade de identificar as potencialidades e mais valias e a forma delas tirar o melhor partido na criação de riqueza e desenvolvimento local, mas também perceber as fragilidades e ter ideias e capacidade para as resolver ou minorar, pode rapidamente ter o mesmo efeito. E quatro anos é muito tempo!

Por muito que se diga e escreva que as Autárquicas são muito pessoalizadas e sendo verdade que em muitos concelhos o candidato é o partido e não o contrario, a verdade é que os partidos e as direções partidárias têm uma palavra muito importante a dizer neste processo. Daí a minha aversão a regras rígidas, a “poderes que são para ser exercidos”, nas escolhas partidárias, pois não raramente têm resultado em aberrações, que mais que prejudicar os partidos e a sua imagem, prejudicam sobretudo as populações, que deveriam ser o primeiro pensamento de qualquer estratégia política.

Concelhos há, como aquele em que resido, em que quase não se saiu da primeira fase, pois na segunda década do século xxi, mais de quarenta anos após Abril de 74, é impensável e absolutamente inaceitável que existam sedes de Freguesia sem rede de saneamento, com deficiente abastecimento de água, sem acesso minimamente decente à Internet, e um concelho onde na maioria das povoações existam condições de vida muito abaixo das oferecidas aos residentes na sede do concelho. E isto não acontece no interior profundo, mas a menos de 20 km de Coimbra, a cidade do Conhecimento.

Não é este o momento para apontar responsabilidades pois elas serão por certo repartidas pelas escolhas que ao longo dos anos fizeram, quer o partido que desde 74 se mantém no poder, quer da oposição que sempre se mostrou incapaz de oferecer uma alternativa capaz de mobilizar a população, pois se é certo que tudo tem um fim, a verdade também é que: – “pra melhor está bem, está bem, pra pior já basta assim!”

As perspetivas, a um ano do final do processo, parecem mais sombrias que nunca, dado que depois de um mandato de perfeito imobilismo, resumido a um lançar de alguns foguetes e apanhar das respetivas canas, de que resultou unicamente ruído, e à gestão, muitas vezes incompetente, dos assuntos correntes, perspetiva-se a continuidade e vemos uma oposição silenciosa, aparentemente conformada, receosa, ou quem sabe incapaz de apresentar um programa e um candidato capaz de construir uma vitoria eleitoral, mas mais do que isso capaz de tirar Condeixa do imobilismo e até do atraso que já começa a fazer-se sentir, quando comparada com as comunidades vizinhas. E Condeixa tem tantas potencialidades!!!!

Também não é visível a possibilidade de um “tocar a reunir” de vontades, que existem, mas aparentemente indisponíveis para sair da zona de conforto e colocar as suas capacidades ao serviço da sua comunidade que merece ser muito mais que um dormitório de Coimbra.

Haja quem tenha a capacidade, mais do que isso, a coragem de pensar e agir “fora da caixa” e por certo ficará, por boas razões, na Historia deste simpático concelho, implantado à volta da vila romana de Conímbriga, um dos pontos turísticos mais visitados do país.

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