Blogue Insónias

Euro e a nossa crise

 

Nos últimos anos, e sobretudo após a intervenção da troika em Portugal existem inúmeras vozes que atribuem ao Euro, grande parte da responsabilidade pela pobre performance económica nacional e pelo forte endividamento do país. A adesão de Portugal ao euro traria supostamente vários benefícios para a economia nacional dos quais se destacavam a redução das taxas de juro e consequentemente o acesso a fontes de financiamento atractivas e a redução dos custos de transacção, o que faria explodir o comércio intra-europeu. No entanto, a perda de autonomia monetária e política delegada e gerida pela banco central europeu, associado a um regime de câmbios fixos, que “atrelou” o país a uma moeda sobrevalorizada, provocaram graves desequilíbrios na balança corrente, aumentando a divida privada e pública, tornando a nossas empresas menos competitivas e abrindo as portas à deslocalização de várias multinacionais e outras industrias para o leste europeu e para a Ásia.

Os efeitos são particularmente perniciosos e por isso atente-se a dois exemplos extremamente interessantes que ilustram na perfeição os problemas e as consequências da pertença da perda de soberania monetária e cambial. O Equador indexou a sua divisa ao dólar em 2000, iniciando assim um regime de câmbios fixos com o objectivo de evitar episódios de hiperinflação. Com uma moeda forte e com os níveis de produtividades extremamente baixos tiveram como resultado taxas de crescimento económico particularmente baixas entrando em 2015 em recessão económica, com uma contracção de 0.6 p.pl do PIB. Além disso, o saldo da balança comercial deteriorou-se de forma considerável em virtude da queda acentuada das receitas dos sectores exportadores e do aumento das importações dos países vizinhos. Pelo contrário, localizado na fronteira com o equador, a Colômbia cresceu no ano passado acima dos 3% e deverá apresentar um performance semelhante em 2016, beneficiando da desvalorização do peso em cerca de ¼, o que provocou um crescimento exponencial do volume de exportações. Neste caso, a possibilidade de utilizar as políticas monetárias e cambiais e adequa-las às necessidades da economia e ao contexto externo foi crucial para assegurar o sucesso económico da Colômbia. Compare-se agora o desempenho económico da Finlândia, país pertencente à zona euro e sem autonomia monetária e a Suécia que possui moeda própria e liberdade cambial e monetária. No caso Finlandês, a adesão ao euro provocou um aumento de 10 a 15% dos custos unitários do trabalho, contribuindo para a concentração do tecido produtivo nos sectores tecnológicos impulsionados pela Nokia. Por seu turno, a Suécia diversificou o seu tecido produtivo, manteve taxas de crescimento económico acima dos 3% (excluindo período de crise 2008-2010) beneficiando da possibilidade de desvalorizar a moeda para tornar as exportações mais competitivas. Em sentido inverso, o PIB da Finlândia encontra-se 7.3% abaixo dos níveis pré-crise, enfrentando uma penosa recessão que vai já no seu terceiro ano consecutivo. Relembre-se que à data da adesão ao euro a riqueza de ambos era bastante semelhante. Por último, compare-se o desempenho dos países que pertencem à União Europeia, que estão dentro da Zona Euro com os que possuem moeda própria. No primeiro caso, no seu conjunto os países da zona euro registaram uma taxa de crescimento económico de 0% em relação a 2008. Por seu turno, os restantes países da união europeia possuem um produto 10 p.p. superior ao que apresentavam antes da crise do subprime. Os dados do desemprego reflectem exactamente a mesma realidade, com as economias da zona euro a sofrerem um aumento de 38%, passando de uma taxa média de 7,6% para 10,3%. Os restantes países beneficiaram com um decréscimo de cerca de 10 p.p. do desemprego, passando de 5,3% em 2008 para 4,8%. Dito de outra forma, a crise veio colocar em agravar as fragilidades e dificuldades no ajustamento e gestão das crises numa união monetária estruturalmente disfuncional.

A pertença a uma moeda excessivamente forte e valorizada dificultou a absorção da crise e a diversificação de economias da zona euro com especial destaque para os países periféricos.

Gosto(1)Não Gosto(0)
Exit mobile version