Hoje recebi, através de e-mail, esta entrevista de António Arnaut que foi ministro dos Assuntos Sociais, no ano de 1978, tendo o seu nome ficado ligado à criação do Serviço Nacional de Saúde. Tive sempre a imagem que era um homem e um político vertical. Esta entrevista apenas vem confirmar o que pensava sobre este ” senador ” da política portuguesa.
Nesta entrevista António Arnaut diz que, em 1983, decidiu abandonar a politica activa porque ” foi quando a política deixou de ser um dever cívico e passou a ser uma carreira, ou um carreirismo, que é pior. Vieram os carreiristas, os medíocres.”
Não podia estar mais de acordo.
António Arnaut aborda também na entrevista a questão da corrupção que diz que na época ” não, não era tanta, agora é uma coisa asfixiante” sublinhando que ” quando apareceram os fumos de corrupção, mesmo dentro dos próprios partidos, pensei: Devo ficar aqui a lutar contra o meu próprio partido, ou devo desertar da luta? e diz que ” ponderei isso, profunda e dolorosamente ” tendo chegado à conclusão que ” não tenho vocação para lutar contra o meu próprio partido. Gosto de lutar contra os meus adversários, que aliás respeito, gosto desse combate democrático. Mas eu não tinha capacidade de adaptação à intriga e a essas coisas. Um homem, realmente, não pode estar no meio das chamas sem se queimar. As chamas acabam por chamuscá-lo “.
Este é sempre um grande dilema para quem hoje está inscrito num partido por questões ideológicas e de serviço público, mas a consciência obriga as mulheres e os homens bem intencionados e sérios a afastaram-se da gente pouco recomendável que ” tomou de assalto ” os partidos políticos.
O actual Presidente Honorário do Partido Socialista acrescenta ” então, sacudi o pó dos sapatos e vim-me embora. Mas continuei a desenvolver a minha actividade política do ponto de vista ético e cívico, até criticando o Partido Socialista quando era caso disso “.
Pois, eu concordo em absoluto com António Arnaut. Eu também decidi afastar-me da vida política partidária activa há 10 anos mas não abdico de ser social-democrata e de criticar o meu partido sempre que for caso disso. Isto não é estar contra o nosso Partido. É, sim, contribuir com a nossa opinião para o reforço da verdade e do pluralismo contra a mentira e os falsos unanimismos. Mas infelizmente hoje não é assim entendido. O pensamento próprio e a reflexão política são muito mal tolerados pelos directórios partidários. Este é um caminho perigoso que poderá levar os partidos convencionais ao seu desaparecimento. Já agora, senão der muito trabalho, acho que vale a pena pensar nisto!