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Um fartou-se do Santana mas há muitos que gostam do Santana

“Fartei-me do Santana”. É assim que Jorge Sampaio é citado no segundo volume da sua biografia da autoria do jornalista José Pedro Castanheira.

Primeiro começo por confessar que entendo que este tipo linguagem não enobrece um antigo Presidente da República quando se refere a um antigo Primeiro-Ministro.

Mas o livro vai mais longe, muito mais longe e cita diversas pessoas próximas do antigo Presidente da República. Na altura parece que tudo o que rodeava Sampaio dava palpites sobre Pedro Santana Lopes.

Na sua quase totalidade não conheço as personagens, que julgo terem sido assessores de Sampaio, mas todos mais pareciam psicólogos do antigo Primeiro-Ministro.

Comecemos por um senhor de nome Carlos Gaspar que dizia que Santana era “muito irresponsável e instável”. Um outro chamado João Bonifácio dizia que o principal problema de Santana Lopes era “a sua personalidade e desequilíbrio”. Nuno Brederode Santos dizia que o ex-Primeiro-Ministro era “errático, irresponsável e imoral com zero sentido de Estado”. Por sua vez um cavalheiro de sua graça Salgado de Matos afirmava que Santana “Ou ensandeceu ou quer eleições antecipadas”. Esta história até militares meteu. Um senhor general de nome Faria Leal dizia que o antigo Primeiro-Ministro era “propenso a acidentes”.

Mas quem são estes senhores para se referirem ao ex-Primeiro-Ministro desta forma deselegante, sobranceira, em alguns casos quase a roçar a má educação? Será que conheciam efectivamente Pedro Santana Lopes? Falavam de ouvido ou baseavam as suas opiniões na literatura cor de rosa? Depois de ler este chorrilho de apreciações fico com a ideia que não conheciam o antigo Chefe de Governo e que a sua opinião tinha por base uma leitura intensiva de revistas do chamado jet set.

Eu, sim, eu conheço Pedro Santana Lopes há muitos anos. Tenho por ele uma enorme estima e amizade. Por isso posso dizer que o ex-Primeiro-Ministro é um homem genuíno e frontal, mas educado, responsável, equilibrado e honesto. Um homem culto, empreendedor, inteligente, um humanista com elevado sentido de Estado. Aliás os últimos anos como Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa têm provado isto mesmo. Foi nomeado pelo governo do PSD, mas viu a confiança renovada pelo actual governo socialista liderado por António Costa.

Habituei-me a ver Pedro Santana Lopes como um homem frontal que não teme enfrentar lobbies. Um político à frente do seu tempo em que o tempo mostrou sempre ter razão antes do tempo. Infelizmente na política a coragem e a frontalidade pagam um preço muito elevado.

Mas regressando a 2004. Na altura pareceu-me que a fórmula de sucessão encontrada, entre Durão Barroso e Jorge Sampaio, era um presente envenenado para Santana. Na altura defendi que Santana Lopes não deveria ter sucedido daquela forma dinástica a Durão Barroso, mas sim ter ido a eleições para se legitimar com o voto dos portugueses. Não tenho dúvidas que Santana Lopes também tinha preferido ir a eleições, mas em nome do interesse do País seguiu o caminho que tinha sido negociado por Barroso e Sampaio. Estou convicto que se tivesse ido a votos as coisas teriam sido muito diferentes.

Mas assim não foi. Agora isto pertence ao domínio da história que um dia contará com outra clarividência as muitas mentiras de que Pedro Santana Lopes foi alvo ao longo da sua vida nomeadamente durante a vigência do seu Governo.

Este livro diz-nos que Jorge Sampaio fartou-se do Primeiro-Ministro. Parece-me que se fartou rápido de mais. Um Primeiro-Ministro preciso de tempo para mostrar trabalho, mas Jorge Sampaio, os seus assessores e os seus amigos do Partido Socialista, tinham pressa em levar o PS novamente ao poder. O antigo Presidente da República não resistiu em fazer-lhes a vontade. Talvez Jorge Sampaio considere que o seu camarada, José Sócrates, a quem escancarou as portas do Governo tenha feito muito melhor por Portugal.

Santana Lopes é daqueles políticos corajosos que não se escusa ao debate e ao contraditório. E como quem não deve não teme disponibilizou-se ontem para um debate televisivo com Jorge Sampaio para esclarecer todos os factos sobre o processo que resultou na dissolução da Assembleia da República e consequente convocação de eleições em 2004. Esperemos que Sampaio aceite porque seria um contributo importante para a vitalidade da nossa democracia.

Entretanto, nos últimos anos, Pedro Santana Lopes tem feito um trabalho ímpar, sem paralelo na história, à frente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, elogiado por todos, até pelo próprio Jorge Sampaio.

Pois, é caso para dizer, as voltas que o mundo dá.

Paulo Vieira da Silva

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