Findo o campeonato nacional português de 2015/2016, aproveito a ocasião para dar os meus parabéns a todos os participantes, vencedores e vencidos. Sem pretender ora menosprezar ora sobrelevar qualquer uma das equipas envolvidas, em meu entender, todavia, o Tondela merece um particular cumprimento.
Adiante. Durante o tradicional mês de descanso dos profissionais do mundo do futebol, Junho – com perda evidente para a «silly season» e para os «vem; vai; fica» noticiosos – este ano, este está preenchido com o Campeonato Europeu de selecções em França. Com todas as emoções ferverosas futebolísticas ao rubro (e para bem do nosso Portugal, quanto mais tarde esfriarem, melhor) e inebriadas até Julho, o próximo campeonato português da I Liga promete. E se promete.
Não pretendo conjecturar quanto às transferências de jogadores e/ou treinadores. Deter-me-ei apenas num ponto, o mais picante: a transmissão dos jogos de futebol desse campeonato. A este título, sucede, um facto muito curioso. Em jeito de analepse, notamos já na altura com a devida pompa e circunstância, os negócios milionários que os operadoras MEO e NOS foram fazendo com os clubes primodivisionários. Por entre números gordos, contratos de exclusividade e durações extensas contratualizadas, a liberalização do mercado de transmissão dos eventos futebolísticos nacionais, dava (acreditamos que sim) uma ideia de «mais e melhor oferta».
Não obstante, e com efeito, esta semana, fomos sendo preparados para o que poderá acontecer já no próximo Campeonato. Assim, para 2016/2017, o que conhecemos:
1) A NOS anunciou que os jogos do Benfica no estádio da Luz continuarão a ser transmitidos pela BTV; este canal manterá o estatuto premium, não tendo, contudo, ainda sido divulgado qual a mensalidade a que estará sujeito;
2) Os restantes jogos envolvendo o SLB, na condição de visitante, passam a ser transmitidos pela Sport TV; ora, como o acordo de distribuição da Sport TV com a MEO ainda se encontra em vigor, e sendo a NOS detentora de 50 por cento do capital da Sport TV, só transmitindo em exclusividade os jogos da Luz na BTV é que, para optimização de lucros, o negócio fará algum sentido em termos de racional económico;
3) A NOS, entretanto, já procedeu à celebração de um memorando de entendimento com a Vodafone Portugal. Este está pressuposto (n)«a definição das principais linhas de um acordo para a disponibilização recíproca de direitos de transmissão relativos a eventos desportivos, bem como de direitos de transmissão e distribuição de canais de desporto e de canais de clubes, que sejam atualmente detidos ou venham a ser adquiridos pelas partes». Logo, os clientes Vodafone Portugal manterão a oferta da BTV na sua grelha;
4) O tal memorando está ainda aberto à entrada dos restantes operadores nacionais, no caso o MEO e a Cabovisão. Se com a Cabovisão (entretanto vendida ao Fundo de investimento Apax) o acordo poderá ser simples, no que concerne ao operador MEO, tal vislumbra-se mais difícil de suceder. Sem base material sólida para sustentar este ponto, esperemos que os operadores possam chegar a acordo;
5) Por fim, o operador MEO, pelo investimento avultado que terá realizado na compra dos direitos do FCP e de outros clubes da I Liga, pretenderá, por certo, rentabilizar esse custo. Logo, é crível que considere a criação de um canal próprio premium para o rentabilizar na sua plataforma.
Chegados aqui, o que releva?
Para quem gosta de ver futebol na televisão e no conforto do seu sofá, se quiser aceder aos conteúdos futebolísticos disponibilizados pelos operadores, restam-lhe poucas soluções (sendo que todas elas envolvem um acréscimo significativo da factura mensal).
Partindo do universo, de forma mais simplista, de simpatizantes envolvendo os, denominados, 3 grandes, temos que:
1) Se for cliente MEO:
a) paga mensalidade da Sport TV;
b) pagará mensalidade do canal premium a criar;
c) enquanto não houver entendimento com a NOS, fica sem os jogos do SLB na Luz, pois não terá acesso à BTV;
2) Se for cliente NOS:
a) paga mensalidade da Sport TV;
b) paga mensalidade da BTV(se quiser ver os jogos do SLB na Luz);
c) enquanto não houver entendimento com o MEO, e se criado um canal premium por este, ficará sem acesso aos jogos em casa do FCP e de outros clubes que tenham cedido os direitos ao operador MEO;
3) Se for cliente Vodafone Portugal:
a) paga mensalidade da Sport TV;
b) paga mensalidade da BTV;
c) se o operador MEO criar um canal premium, enquanto a Vodafone não acertar termos de distribuição com o MEO, os seus clientes ficarão sem acesso aos jogos em casa do FCP e de outros clubes;
4) Se for cliente Cabovisão:
a) paga mensalidade da Sport TV;
b) se o operador acertar, nos mesmos termos que a Vodafone, um memorando de entendimento com a NOS, quanto à BTV, paga mensalidade da BTV;
c) se o operador MEO criar um canal premium, enquanto a Cabovisão não acertar termos de distribuição com este, os seus clientes ficarão sem acesso aos jogos em casa do FCP e de outros clubes.
No final, contas feitas, em função da equação «cliente + relação operador de distribuição + paixão clubística», o próximo campeonato desportivo promete vir a ser bem quente.
Ademais, nada como uma boa trica, uma boa novela e uma bola para nos manter entretidos.