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Tradições de Natal!

           Serão mesmo tradições? Ou, somente, tiques de modernidade com ares de passado?

Pois bem! Ainda na Noite de Natal, (ou será de Consoada?) num repente, registei na minha página do face: «Passou a correr! Desceu as escadas 2 a 2. Deixou uma prenda. Obrigado, Pai Natal!». Tradições. Agora, designamos assim a espera ansiosa do bater à porta de alguém que nos habituámos a chamar “Pai Natal”. Há umas dezenas, não muitas, de anos, era o menino Jesus que trazia as prendas pela chaminé. Nem sempre havia dinheiro para umas botas, ou sequer, para uns socos/as. Uma lapiseira, uma lousa nova, porque a outra se partira, sabe-se lá se nas costas de algum colega mais quezilento, uma camisola, que o frio apertava e a escola só tinha uma braseira, que era para a Professora se aquecer, pois era mais velha. Os alunos, ah!, esses tinham o recreio para correr, mas sem passar a linha que o separava do das raparigas. 

Ter-me-á saído, num repente, ou será a nostalgia de um passado, já longínquo? Na verdade, nem sequer ouvira o habitual “Oh! Oh! Oh!…” lá por casa. Os “gostos” dos amigos não se fizeram esperar. Nem os comentários. Alguns, brincando também com as tradições. Para além dos habituais votos da ocasião, porque também é tradição desejar “Boas Festas”. Foi um instante. Mas, iludida a imaginação dos mais novos, seguiu-se a habitual troca de prendas. Como por muitas outras casas da vizinhança. Na cidade, como nas aldeias. Generalizou-se aquilo a que também já se reconhece ser uma grande campanha de marketing para vender o que é preciso, ou nem por isso. Consumismo, pois claro. Alguns chamam-lhe tradições.

             Um órgão sinfónico de ponta e cânticos em latim

O tema foi glosado na homilia da Missa do Galo pelo Bispo de Vila Real. Muito a propósito, por sinal. Sim, por tradição, na Noite de Natal, há a Missa do Galo. Este ano, havia pessoas não habituais. O órgão sinfónico da Sé Catedral de Vila Real é motivo acrescido para sair do quentinho da lareira. O concerto de dias antes tinha deixado a generalidade dos que nele participaram com vontade de voltar. Enriquecer a liturgia foi uma das motivações para o envolvimento e empenho na aquisição daquele equipamento litúrgico-cultural. Afinal… Qual não foi o espanto quando a música selecionada era em latim. Uma Língua conhecidíssima. Se já é difícil acompanhar o coro, em português, na Língua de Virgílio isso torna a tarefa ainda mais difícil. Menos gente a compreender, a poder acompanhar. Estupefação?… Nem sei que qualificativo usar. Mas, decerto, que muitos, tal como eu, não gostaram.

Ocorreu-me à memória o artigo de Andrew Brown no Público desse mesmo dia, com o título “A guerra contra o Papa Francisco”. A certa altura, escreve aquele colunista: «No início dos anos 1960, um encontro que durou três anos entre bispos de todos os quadrantes da Igreja, que ficou conhecido como o Segundo Concílio do Vaticano, ou Vaticano II, “abriu as janelas para o mundo”, nas palavras do Papa João XXIII, que o convocou, mas que morreu antes da sua conclusão.» E continua: «O concílio renunciou ao anti-semitismo, abraçou a democracia, proclamou direitos humanos universais e aboliu, em larga escala, a missa em latim.» Por que, então, este revivalismo? Ou terá a ver, também, com tradições?

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