O título de hoje, desenganem-se, não é para bater nas inauditas afirmações de Assunção Cristas a propósito de uma resolução bancária do BES – com um custo inicial de 3,9 mil milhões de euros para o contribuinte «por dá cá aquela palha». Poderia sê-lo, mas, não é a política – pura e dura – que hoje me move. É um tema, também ele carregado de emoção, mas, não é política. Hoje dedico-me à bola.
Depois de conhecido o rol de castigos que o meu clube de futebol coleccionou na sequência de uma miserável arbitragem de um, jovem, árbitro, internacional, de seu nome Tiago Martins, decidi questionar-me quanto ao tema quente: Subverter regras para promover incompetência no mundo da bola poderá ser o caminho para a pacificação por que se anseia? Porquê esta questão?
No caso particular, porque me tocou concretamente, reparei que, sendo inúmeros os exemplos – bastando um simples googlar – em que as arbitragens de Tiago Martins são postas em causa, num mundo emocional como o do futebol, a razão é sempre relegada para outra dimensão. O exercício de racionalidade apresenta-se pois, ab initio, tendencioso. Mas, vamos tentar. Sendo o meu clube, o VSC, um clube sério e respeitador – concordando e sublinhando, aqui, na génese a totalidade das palavras do meu Presidente Júlio Mendes – exigir-se-ia – pressupondo a figura do árbitro num jogo de futebol, como a de um participante neutral – que o árbitro Tiago Martins se comporte de igual forma. Não só em Guimarães. Em qualquer campo. Parece-me uma conclusão óbvia.
Adiante. Pesquisado o perfil do árbitro, constatei que a história por detrás da sua promoção, de iniciativa portuguesa, a árbitro internacional FIFA é, no mínimo, ilegal. Como? Explico. Tomei a prudência de colocar o ilegal em itálico. A Circular no. 1379 de 16 Agosto de 2013 da FIFA, assinada pelo seu Deputy Secretary General, Markus Kattner, contém as regras da nomeação para promoção às insígnias FIFA. E, estas, no seu número 5, taxativamente, referem: «The proposed referees shall have officiated regularly at matches in the highest division in their country for at least two years.». Ou seja, dois anos – como período mínimo – de arbitragens regulares no escalão principal. Olhando para o percurso, em particular deste, jovem, árbitro, temos que – nas duas épocas anteriores à sua promoção a internacional FIFA, consultado o registo pessoal do árbitro Tiago Martins no sítio da Associação Portuguesa de árbitros de Futebol – em 2012/13 tinha ficado classificado em 17.º , arbitrando no Segundo escalão; e que, em 2013/14, ficara em 2.º nesse mesmo Segundo escalão, posição final que lhe valeu uma subida ao Primeiro escalão.
Não deixa de ser curioso, todavia, constatar que logo no ano de subida ao escalão principal da arbitragem foi promovido a internacional nessa época de 2014/2015. Tinha 2 jogos no principal escalão no currículo!! Não são 2 anos de arbitragens regulares no principal escalão; foram 2 jogos. Promoção que contraria clara e inequivocamente as regras postuladas pela FIFA, de que já demos conta supra. Em abono da verdade, sempre existe um parâmetro cumprido: o numérico 2.
A forma como este, jovem, árbitro, sem qualquer tipo de experiência de arbitragem ao mais alto nível do escalão principal, foi proposto – e nomeado! – para receber as insígnias da FIFA, parece-vos normal? Mesmo parecendo normal, apesar da discórdia que tal ousadia promovera no seio dos Conselheiros da arbitragem, em respeito pelas regras ditadas internacionalmente, acredito, não deveria sê-lo. Nem justificável. Mas, foi-o. Estranho? Não, é Portugal!
Maus profissionais existem em qualquer profissão. É inegável. Promoções por distracção fazem, de igual forma, parte do quotidiano de qualquer profissão. Em Portugal é aquele trejeito típico nacional, constante, permissivo, que contraria a meritocracia que todos desejaríamos. É o que é. E, pelos vistos, admirem-se, quase ninguém se insurge contra ele: Atrevidos, vamos ainda um pouco mais longe, alimentando-o, e carinhosamente apelidando-o de «factor c». Será este o caso? No mundo, digamos, «técnico» do futebol, seja, ou não, certo é que este parece um exemplo de promoção por distracção…ou será que as regras, instituídas, apenas servem de bitola para os outros? É sempre para os outros, certo?
Voltando e focando-me somente na miserável arbitragem do passado Domingo. Algo de muito mau se passa quando, num jogo de futebol com 6 golos, 3 a 3 no resultado final, o momento de destaque sobressai sobre a actuação do elemento que, por regra, deveria ser o mais neutral – e que não o foi!- o tal árbitro, internacional, Tiago Martins. É o futebol: imprevisível nos destaques.
Para terminar, porque já enjoa falar semanalmente de arbitragens e de futebol – e espero com este desabafo abster-me de futebol por muito tempo! – apenas me permito a referenciar dois apontamentos, verdadeiramente dignos de registo: a seriedade das declarações do meu treinador, Pedro Martins:«Quanto ao jogo, falem com o Tiago Martins»; e, a honestidade e simplicidade das declarações do meu jogador, TóZé, expulso por ter pedido ao árbitro «Não estragues o jogo».O resto passará. Como sempre passa. Até a promoção ilegal deste internacional já caiu no esquecimento do tempo…e com o passar contínuo deste, assim se esperaria, o desempenho profissional deveria melhorar. Porém, pelos vistos, nem nisto o tempo tem ajudado…
Curial, porém e finalmente, se os poderes da arbitragem clamam pela necessidade de acalmia e paz no mundo do futebol, para que os árbitros possam desenvolver o seu trabalho em paz, pelo menos, assim penso, exige-se que esses poderes comecem por dar o exemplo. E aqui, nesta, digamos, promoção por distracção, não me parece que o tenham feito! De todo. Até porque, a ideia que perpassa de subversão de regras para promoção de inabilidade profissional, nunca poderá ser o caminho para a pacificação por que se anseia.
PS: Quanto a Tiago Martins, de uma próxima vez que apite um jogo de futebol do meu VSC, que a miserável prestação de 12 de Março de 2017 não lhe tolde o desempenho futuro.
Imagem retirada do sítio: http://www.vitoriasc.pt/pt/