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Só votam os convencidos mas os vencidos assim não contam

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Tenho defendido a ideia de que a geografia eleitoral portuguesa está cada vez mais reduzida aos convencidos (eleitores fiéis ao partido/bloco ideológico) enquanto os vencidos (eleitores infiéis e cansados do sistema partidário), pouco a pouco, deixaram de votar. Uma tendência que vem de há muitos anos, mas agravada com a estagnação económica que dura há dezasseis anos, a austeridade, a corrupção e a completa ausência de reformismo institucional. Já tive oportunidade de sugerir que este fenómeno tem consequências na forma como se faz política em Portugal, agravando o peso das claques e da comunicação negativa (insultos, boçalidade, demagogia, spin) em detrimento de um espaço público com debate de ideias (que praticamente morreu).

Vem isto a propósito da abstenção ontem nos Açores que rondou os 60%. Ao contrário do que ficou implícito ontem, essa taxa de abstenção não foi um epifenómeno, mas apenas confirmou aquilo que já tinha acontecido em outubro do ano passado (mas ninguém notou). Votaram fundamentalmente os convencidos e naturalmente produzindo os mesmos resultados observados em outubro do ano passado: PS/BE subiram de 45,5 mil votos o ano passado para 46,5 mil votos agora; PSD/CDS desceram de 37,5 mil votos o ano passado para 35,5 mil votos agora; a CDU ficou nos 2,5 mil votos.

Apesar do teatro partidário de vencedores e vencidos ensaiado ontem, a verdade é que não mudou nada entre grandes blocos (sim, dentro de cada bloco, o rácio PS/BE passou de 5 para 12, o rácio PSD/CDS desceu de 10 para 5). Tudo na mesma nos Açores. Tudo na mesma no país. Quando temos uma geografia eleitoral reduzida aos convencidos o normal é que nada mude! Por mais que as sondagens, os comentadores, as notícias tentem criar a ilusão de que há mudanças eleitorais relevantes!

Mas fica um aviso importante aos vencidos (como eu). A abstenção assim como o voto B/N é uma forma de protesto completamente ineficaz. Os partidos não querem saber da abstenção ou do voto B/N porque não lhes dói. Uma taxa de abstenção de 60% não muda nada como se viu ontem à noite. Nem a maioria absoluta do PS nem a oposição vão alterar uma vírgula dos respetivos guiões. Nos próximos quatro anos nenhum partido vai perder um minuto a pensar nos 60% de eleitores açorianos que não votaram ou nos 5 mil açorianos que foram às urnas para votar B/N.

A abstenção também não interessa à comunicação social que a ignorará até próximas eleições. E os votos B/N nem aparecem, simplesmente não existem mediaticamente. Quando chegarem novas eleições a abstenção ocupará uns minutos até começar o teatro dos vencedores e vencidos. E os votos B/N continuarão a não existir (apesar de serem mais que os votos do BE ou da CDU).

Fica uma pista sobre o que dói aos partidos políticos e pode interessar à comunicação social …  Madeira, regionais de 2015… 13 mil votos e 5 deputados… JPP!

 

Regionais 2012

Legislativas 2015

Regionais 2016

INSCRITOS

225 mil

228 mil

229 mil

VOTANTES

108 mil

94 mil

93 mil

PS

53 mil

                   38 mil

43 mil

PSD

35,5 mil

34 mil

29 mil

CDS

6 mil

3,5 mil

6,5 mil

BE

2,5 mil

7,5 mil

3,5 mil

CDU

2 mil

2,5 mil

2,5 mil

OUTROS PARTIDOS

4 mil

4 mil

3,5 mil

B/N

5 mil

4,5 mil

5 mil

 

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