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Revistas ( de Propaganda ) Municipais

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Há uns anos a esta parte muitas Câmaras Municipais passaram a publicar regularmente boletins e revistas municipais. Estas publicações não passam de uma camuflada “ propaganda “ dos presidentes de câmara e respectivos executivos paga pelos munícipes.

As dificuldades financeiras porque passaram e continuam a passar muitas câmaras municipais não colocou travão a estas excentricidades pagas por todos nós.

Um dia, em que como muitos outros sou o primeiro a chegar à empresa, quase tropeçava em tanto papel. Não era publicidade dos hipermercados, nem das grandes lojas que enchem as nossas caixas do correio. Eram três exemplares da Revista do Município de Vila Nova de Gaia referentes ao mês de Abril de 2016.

Confesso que, naquele momento, tinha outras prioridades e nem sequer passei os olhos pelas revistas.

Hoje, durante o intervalo que fiz para uma pausa para um café, peguei num dos exemplares, folheei-o e deparei-me logo no início com uma entrevista de sete páginas ao Presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, ilustrada com cinco fotografias do autarca. A entrevista verifiquei que foi feita por três cidadãos, não tendo percebido qual foi o critério de escolha dos mesmos.

Na mesma revista, mais adiante, deparei-me com um espaço tipo “ vox populi “ que ocupava mais seis páginas em que doze cidadãos, de doze freguesias diferentes, devidamente identificados, até com fotografia, exprimiam a sua opinião sobre a requalificação da rede viária de Gaia, não tendo percebido também qual foi o critério de escolha dos mesmos. Uma coisa tinham todos em comum: criticavam implicitamente o desleixo do anterior executivo elogiando explicitamente o novo executivo camarário pelas obras efectuadas.

Mais à frente novo “ vox populi “ agora sobre a requalificação do parque escolar. Novos testemunhos, novas críticas implícitas ao desleixo do anterior executivo e elogios ao novo executivo camarário pelas obras efectuadas.

Continuei a desfolhar a revista à espera da publicação de alguns regulamentos municipais aprovados nos últimos meses, mas confesso que nada encontrei. Nas últimas páginas encontrei cinco artigos de opinião em que um era do Presidente da Assembleia Municipal, Albino Almeida, e os outros quatro de partidos com representação na Assembleia Municipal. Por acaso reparei na ausência de artigos do Movimento Independente “ Juntos por Gaia “ e do CDS.

Pelo meio encontrei algumas pequenas notícias relativas a meia dúzia de iniciativas do actual executivo, três ou quatro inaugurações e diversas maquetes de equipamentos relativos a projectos futuros.

Não terminei a minha breve leitura sem ter reparado que a produção e edição dos conteúdos é da responsabilidade do Gabinete de Apoio à Presidência da Câmara Municipal de Gaia.

A revista tem 52 páginas, na quase sua totalidade a cores, e uma tiragem de 150.000 mil exemplares. Esteja tranquilo leu bem! São mesmo cento e cinquenta mil exemplares! Na minha empresa ficaram logo três exemplares tendo ficado ainda 149.997 exemplares para distribuir pelo concelho de Vila Nova de Gaia.

Se não recebeu a sua revista, não se preocupe que deve estar a recebê-la na sua caixa de correio. O Concelho de Gaia, segundo dados estatísticos que consultei, deverá ter cerca de 115.000 habitações e estabelecimentos comerciais, por isso, chegarão para todos e ainda sobrarão alguns milhares de exemplares para o arquivo da Câmara Municipal de Gaia.

Até agora tudo muito bonito! Mas quanto custa a edição e distribuição de uma revista trimestral com uma tiragem anual de 600.000 exemplares?

E qual é o retorno deste investimento para os munícipes? Penso que muito pouco, para não dizer nenhum.

Afinal quem ganha com a edição desta Revista? Parece-me que o actual Presidente da Câmara e o seu executivo.

Estes gastos em revistas municipais não batem certo com as boas contas do Município de Gaia anunciadas recentemente por Eduardo Vítor Rodrigues. Uma autarquia com boas contas não gasta, por ano, centenas de milhares de euros em revistas municipais.

Será que este dinheiro não seria muito mais bem investido na resolução dos verdadeiros problemas das pessoas? Na requalificação da rede viária ou do parque escolar e desportivo? Em acção social em prol dos mais desfavorecidos? Na promoção e captação de novos investidores que criariam novos postos de trabalho?

E que fique bem claro que este não é um problema apenas de Vila Nova de Gaia. É quase transversal a todas as câmaras municipais e a todos os partidos políticos. Estamos a falar de muitos milhões de euros gastos e pagos todos os anos pelos portugueses em “ propaganda “ particamente em proveito próprio da popularidade dos autarcas.

Eu sou determinantemente contra a edição deste tipo de revistas ou boletins municipais. Entendo mesmo que a Assembleia da República deveria legislar proibindo de imediato este tipo de publicações.

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