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Reformas…

electronica

Desempregado, fui contactado pelo IEFP para uma entrevista de actualização e analise curricular, pois haviam diversas vagas de electricista.
Apesar de ter tirado um bom curso de electricista, na prestigiada Escola Técnica Avelar Brotero, cujos conhecimentos adquiridos foram de extrema importância em toda a minha vida profissional, a verdade é que nunca exerci a profissão de electricista como facilmente se podia ver no meu currículo. Além disso, essa formação é anterior a 1974, há muitos anos portanto, e entretanto as celebres Regras de Arte e Segurança mudaram muito assim como a aparelhagem eléctrica pouco tem a ver com esse tempo. A convocatória era obrigatória, e por isso lá fui…
Estavam na sala 12 “candidatos”, desses apenas eu e outro tínhamos ideia do que fazia um electricista e esse outro saiu de lá, porque estava em situação aflitiva (a viver na rua) com a perspectiva de emprego como empregado de mesa, a sua mais recente profissão!

Serve esta passagem da minha vida recente para ilustrar a reflexão que hoje vos queria trazer, sobre as politicas e os políticos que temos. É que politica não é o blá, blá dos congressos partidários, sobre o que, com tanto frenesim se escreveu nestes dias. Politica deveria ser a nobre arte de resolver os problemas e as justas ambições das pessoas em sociedade, sociedade que se quer mais justa e inclusiva.

A primeira ilação que ressalta é o desfasamento do IEFP com a realidade e a forma displicente como se abordam as questões e se convocam as pessoas. Na verdade o IEFP serve para muita coisa, mas muito pouco para ajudar os desempregados a encontrar emprego e as empresas a encontrar empregados.
Resolveu recentemente o governo substituir todas as chefias do IEFP. Eu, se ministro, era a primeira coisa que faria, mas tenho sérias duvidas que as substituições se traduzam numa mudança real de paradigma da actuação do IEFP, acreditando mais que apenas se tratou de dar emprego a alguns socialistas desempregados ou a querer subir na vida.

A outra ilação e mais importante, até porque mais difícil de resolver, pois trata-se de um problema estrutural, revela o desfasamento entre o que se ensina nas escolas e as necessidades das empresas.
Foi uma burrice sem tamanho acabar com os “mestres” das antigas escolas técnicas e com eles com os cursos técnicos. A verdade é que os engenheiros electrotécnicos saem da faculdade e não sabem fazer, na pratica, a derivação de uma lâmpada fluorescente, e os mecânicos sem nunca terem tocado numa fresa ou num torno, e são eles que vão “ensinar” os alunos dos ditos cursos “profissionais” que entretanto foram criados no ensino secundário. Isto para já não falar que só vão para os “profissionais” os alunos que não conseguem fazer o “cientifico” e não, como seria natural, os que se sentem mais vocacionados para o saber fazer.

Uma boa solução, que representaria uma evolução natural no sistema de ensino seria a criação de mais Cursos de Especialização Tecnológica, ministrados nos Institutos Superiores Politécnicos por profissionais no activo, sob coordenação de um ou vários docentes da instituição. O meu curso de electricista demorou 3 anos e tive que aprender o Português , a Matemática e a Física, pelo que 2 anos de formação, pós-secundário, essencialmente laboratorial/oficinal seriam o ideal para formar os técnicos que as empresas precisam. Obviamente que, quer os cursos quer os planos curriculares deveriam ser criados em estreita colaboração com os empregadores da região onde as escolas estão inseridas.

Há mais de 30 anos que, por via deste desfasamento entre o ensino e as reais necessidades do mercado de trabalho, falamos e lançamos fundos comunitários sobre a qualificação profissional dos portugueses. Hoje quando se volta a falar dos fundos disponíveis do Portugal 2020, lá está novamente a qualificação. Espero, embora com pouca convicção, que não se voltem a pulverizar os fundos por “centros de formação” que sugiram como cogumelos com o único objectivo de captar esses fundos e que em vez de formar profissionais encheram os bolsos de alguns e constituíram arguidos em vários processos judiciais, por peculato e utilização indevida de dinheiro publico.

Há que não fugir a um principio básico: – A formação dá-se nas escolas, pois são elas que estão apetrechadas com as competências e a experiência pedagógica para o fazer, e temos escolas publicas suficientes. Dêem-se-lhe os meios, a autonomia e exija-se das equipas de gestão dessas escolas o trabalho necessário. É para isso que lhes pagamos.

Temo no entanto, que as deambulações ideológico-filosóficas do actual titular da pasta da Educação e a tradicional falta de coordenação entre os vários ministérios, neste caso o do Planeamento e das Infraestruturas , responsável pela gestão dos fundos do Portugal 2020, sejam um entrave a que neste campo da qualificação profissional, se faça desta vez o necessário, o correcto ou mesmo diferente do que de mal até aqui sempre se fez.

A ver vamos….

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