Vinte e três anos depois de ser criado pelas Nações Unidas, o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia enfrentou hoje o seu momento da verdade. Justiça que é feita depois de vinte anos passados sobre os factos, pode continuar a ser justiça. Principalmente se em causa está a condenação de um dos maiores criminosos de guerra, desde Nuremberga, responsável pela massiva limpeza étnica a que a região dos Balcãs assistiu, na década de 90 do século passado.
Radovan Karadžić – o fundador da Republika Srpska, nasceu num estábulo, no Montenegro. Na vida anterior à de criminoso de guerra, foi médico psiquiatra e poeta, e ficou conhecido como o homem das mil caras ou o carniceiro da Bósnia. Quando em 2008 foi preso em Belgrado, vivia disfarçado de guia espiritual, sob o nome de Dr. Dragan David Dabić e fugia já há doze anos.
Foi hoje considerado culpado de genocídio e crimes contra a humanidade durante a guerra da Bósnia de 1992-1995, na sequência da qual mais de 100.000 de pessoas foram brutalmente assassinadas e mais de 2,2 milhões deslocadas. Foi condenado a 40 anos de prisão. Durante 497 dias de julgamento, exerceu a sua própria defesa, refutando as vastíssimas provas existentes contra si, uma a uma. Já anunciou que pretende recorrer da sentença.
A mente do criminoso, considera os dois eventos mais emblemáticos daquela Guerra – o Massacre de Srebrenica e o Cerco de Sarajevo – um mito.
Defendeu sempre uma ideologia nacionalista-demoníaca de ódio – foi responsável por campos de concentração, violações, tortura, e extermínio em massa. No reverso, espalhou dor, sofrimento, desespero e loucura.
Mais de vinte anos depois do Acordo de Dayton, que pôs termo ao conflito armado, não encontramos naquela região do globo, estabilidade governativa e paz. Pelo contrário, rumores intensos persistem, sobre um ressurgimento das sementes da devastação.
Esta histórica condenação surge na penumbra dos ataques terroristas em Bruxelas. Falamos do mesmo. Há vinte anos e ontem e hoje e sempre.
Amanhã, celebra-se o dia mais sagrado do calendário católico, a Sexta-Feira Santa.
Não se esqueçam, porém, que o Povo escolheu Barrabás.
Uma Santa Páscoa para todos.