O primeiro-ministro está a ser fortemente pressionado para demitir o ministro das finanças Mário Centeno, em virtude do episódio protagonizado por este último em relação à publicação da declaração de rendimentos do anterior presidente da CGD. Curiosamente, no meio deste frenesim, os elogios de Bruxelas relativamente ao cumprimento das metas do défice e a revisão em alta do crescimento económico, que constituem isso sim a verdadeira essência do desempenho de Mário Centeno na pasta das finanças, passaram praticamente despercebidos à oposição. Além disso, o ministro em causa tem sido um importante agente diplomático junto da comissão europeia obtendo enormes concessões e um respeito admirável junto dos seus parceiros. Colocar em causa a qualidade e integridade de Mário Centeno, forçando a sua demissão por um caso sobrevalorizado/irrelevante e meramente legalista, apenas privará o país de um técnico competente, dialogante e capaz de gerir interesses antagónicos e difíceis, com mestria. Uma situação semelhante ocorreu em 2004 com o então secretário dos assuntos fiscais Paulo Macedo, que após realizar um trabalho enorme na modernização da máquina fiscal do Estado e de arrecadar várias centenas de milhões de euros para o erário público acabou por ser demitido (demitir-se) pela dimensão do salário auferido (perfeitamente ajustado ao seu valor e competência).
Infelizmente, o sistema político português continua a aproveitar todo o tipo de polémica para obter benefícios eleitorais, atacando precisamente os elos mais frágeis, ou seja, aqueles elementos do governo sem passado partidário, eminentemente técnicos de carreira, que constituem o elo mais fácil de derrubar. Despois não se queixem das qualidades dos nossos ministros.