“Sonhei que estava no alto de um edifício limpando uma janela, quando bateu um forte vento e então caí. Até agora a sensação de queda me dá calafrio, agonia, fico agitada, nervosa. Antes de bater no chão, acordei. Neste dia de manhã não consegui ir para o trabalho, fiquei trêmula, tensa, agoniada, o ar não cabia no peito”. P, 27 anos
“Sonhei que um bandido que foi morto na porta da minha casa pela polícia (no sonho, ele não estava morto) havia pulado o muro e, com um facão, dizia que ia se vingar. Peguei minha cartucheira e descarreguei no bandido, e ele não morria. Quanto mais eu atirava nele, mais ele ria de mim. Acordei agoniado, tenso, e assim que acordei fui ver se não tinha nada deestranho lá fora”. A, 32 anos
Os pesadelos ou sonhos de angústia são considerados sonhos importantes em um processo de psicoterapia / análise por evidenciarem os conflitos do inconsciente. Normalmente ocorrem em períodos de vida conturbado, de transformações e mudanças sendo repetitivos aparecendo em várias noites consecutivas.
Os pesadelos evidenciam os complexos- conjunto de idéias carregadas afetivamente , mobilizando o corpo físico de forma intensa. Apresentam diariamente o desafio de mostrar a autonomia da psique e sua força psicossomática, por nos possuir involuntariamente, apresentando pontos “cegos”- nosso inconsciente- que a psique precisa assimilar na consciência.
Em um pesadelo o sonhador agita-se de forma extrema, grita, chora, chuta, esmurra, entra em agitação motora influenciado por uma produção onírica que ocorre em sua mente.
Embora um pesadelo não seja real, o indivíduo o vive como se fosse algo palpável, concreto não diferenciando fantasia de realidade mergulhando no mundo dos sonhos. Um pesadelo ativa reações orgânicas intensas que ocorrem durante o sonho e logo após ao acordar. Relato de pacientes evidenciam que um pesadelo afeta o estado emocional por horas, dias dependendo da força do Complexo ativado. Reações de palpitação, medo, introspecção, atenção desdobrada, sudorese são comuns após um pesadelo podendo se estender por horas.
Geralmente os pesadelos ocorrem como um mecanismo de compensação psíquica no qual, a tensão produzida em um sonho, alivia outras tensões. É notório que um pesadelo mostra uma crise da personalidade que precisa ser elaborada. Vários pacientes que acompanhei como analista e psicólogo clínico com recorrentes pesadelos apresentavam quadro de alta ansiedade, estresse, depressão fobias, compulsões, ou com outros transtornos. Quadros patológicos com febre, infecções ou desgaste físico no contexto orgânico ; crises afetivas intensas situações que nos colocam em contato com os nossos limites geram pesadelos. A crise no processo de individuação, a perda do sentido de vida também engendra vários pesadelos, que denotam que o individuo não esta bem . Os pesadelos mostram necessidade de mudança, a insatisfação, a tensão que às vezes ainda não é consciente. Revelam aspectos sombrios negados pelo sonhador, sua fragilidade, por vezes o distanciamento da identidade e essencia.
Não há receitas para fugir de pesadelos. Devemos, ao contrário, agradecer quando estes ocorrem porque podem mostrar pontos de nossa fragilidade psíquica que ainda desconhecemos. Pesadelos podem servir de combustível para nosso crescimento se a busca do auto conhecimento existir.