Belchior, Baltazar e Gaspar.
Os três reis magos tinham uma missão; meterem-se ao caminho, para irem adorar o Rei dos Judeus.
Com eles levavam ouro, incenso e mirra, presentes, para oferecer ao “menino”, acabado de nascer.
Ora, se o “menino” nasceu a 25 de Dezembro, a vinda dos três reis magos nunca podia acontecer em Janeiro, parece óbvio.
Tem isto a ver com o diabo, perdão, com Pedro, o diabo e o lobo.
Pedro, que dias antes, com o tom grave que o caracteriza, se indignou com as “brincadeiras” do governo, aproveitava o jantar de Natal com os seus apóstolos parlamentares para brincar um bocadinho.
Por um lado, o diabo, que era para chegar, mas ainda não chegou, sentado no ombro de Pedro, ordena-lhe: brinca!
No outro ombro, o anjinho diz-lhe com voz doce: não brinques, Pedrinho.
Mas, Pedro não resistiu e, a propósito da vinda do diabo, previu a chegada dos três reis magos, depois do Natal, em Janeiro, pelas Janeiras.
Os apóstolos, sentados à mesa, riram, embora a piada tenha sido sacada a ferros.
Ora, quem com ferros mata…
Não consta que Belchior, Baltazar e Gaspar alguma vez se tenham enganado com o calendário, pelo que, em Janeiro, talvez venha o diabo, mas nunca os três reis magos.
Pedro, que já enfrentou o lobo – disfarçado de troika, em vez de cordeiro – vai enfrentar o diabo, mas isso será lá mais para o fim do ano novo, e deste texto.
Pedro não gostava de brincadeiras, mas passou a gostar.
Enquanto isso, já os três reis magos tinham chegado ao presépio, sem que disso Pedro tivesse dado conta.
Pedro não tem que saber que, na verdade, não há certezas se eles eram reis, há quem diga que eram sacerdotes, nem sequer se eram apenas três.
Pressupõe-se isso porque só deixaram os três presentes que levaram.
Há até quem diga que podiam ser astrólogos, que seguiam uma estrela que, por acaso, estava na zona onde nasceu o “menino”.
Sendo que, esta parte não bate certo com a parte dos presentes (ouro, mirra e incenso), pois não consta que os três reis magos levassem consigo binóculos, telescópios, nem sequer um mero sextante!
Pedro acha que sabe tudo, mas Pedro não sabe que ninguém sabe tudo.
Preocupado com a vinda do diabo, Pedro perde-se em si.
A Belém chegaram os três reis magos.
O “menino” tinha acabado de nascer, ainda estava nas palhinhas deitado, a tirar selfies.
Em vez de ouro, eles levaram-lhe metas atingidas, em vez de mirra eles levaram-lhe paz social e consensos, em vez de incenso eles levaram-lhe esperança.
E, no fim, tiraram uma selfie.
Pedro não deu conta que o “menino” nasceu em Dezembro, por isso continua convencido que será em Janeiro que os três reis magos chegarão.
Pedro não tem piada nenhuma.
Pode Pedro ter piada quando diz, no Natal (Pedro é insensível às datas – feriados incluídos -) que o governo actual “pretende criar uma confusão, criar uma nuvem de fumo para que não se discuta o essencial para o país”.
Estamos hoje pior que há um ano. Em todos os indicadores, o país está aquém do que fomos capazes de fazer em 2015?
Pode ter tudo, piada é que não.
O problema de Pedro são os lapsos.
Pedro não se equívoca apenas na data em que os três reis magos chegam a Belém, Pedro equivoca-se também em relação ao que é essencial ao país.
“Estamos hoje pior que há um ano”.
Esta, é a frase assassina que matou Pedro.
Muito ele gritou que o lobo aí vinha, até que um dia…
Portugal não está pior que há um ano, por muito que Pedro o diga em tom grave. Está à vista de todos, só não vê Pedro e os seus mais directos apóstolos (Maria e Luís).
E, isso não é uma derrota, é apenas uma mudança.
Pedro e os seus mais directos apóstolos falam no essencial para o país, e falam numa nuvem de fumo.
Como se a nuvem de fumo não fosse aquela onde Pedro se senta, apesar de saber que não está às portas do céu, pelo contrário, está muito mais próximo do diabo do que imagina, como se o essencial para o país não fosse atingir as metas, cumprir (e em alguns casos antecipar) compromissos, aprovar o Orçamento do Estado, constitucional, em Portugal e em Bruxelas, como se o essencial para o país não fosse devolver rendimentos às pessoas, aliviar-lhes a pressão, ao mesmo tempo que a mão pesada que paira nas nossas costas, há anos, começa também ela a aliviar a pressão.
Como se o essencial para o país fosse o contrário que que tem e deve ser.
Pedro tem é dor de cotovelo, porque comeram-lhe a carne e agora roem-lhe os ossos, e tem razão, nesta parte.
Talvez nas actuais circunstâncias Pedro tivesse feito até melhor, mas a evidência é que não foi Pedro, foi António.
Para Pedro e seus mais directos apóstolos a evidência não existe, e conspiram à mesa de Natal, enquanto Judas sorri.
A esta hora Pedro está a ver televisão.
Ele não podia perder a chegada dos três reis magos, por nada deste mundo.
Disseram-lhe há pouco que não era em Janeiro, era em Dezembro, no último dia, anda por cima. Chegou a tempo, Sentou-se no sofá e ficou com os olhos presos ao ecrã.
Nunca tal ele tinha visto, os três reis magos chegaram a Belém para adorar o “menino” das selfies.
A grande dúvida de Pedro é quando chegará o lobo, porque quanto ao diabo, Pedro já sabe que ele chegará disfarçado de câmara municipal, lá para Outubro.
O que Pedro não sabe, é se chegará lá.
O que nem nunca saberá, é que os três reis magos não se chamam Baltazar, Belchior e Gaspar.
Eles chamam-se António, Catarina e Jerónimo.
A Pedro resta o diabo!
Nasceu o “menino”!
Tiremos uma selfie, em Belém.
Aleluia!
Os meus votos de um feliz Ano Novo, para todos os colaboradores e leitores do Insónias.
O meu muito obrigado pelo privilégio que me dão de participar neste colectivo.
Ah, nada tenho contra Pedro.
Só não gosto do diabo!