A Trofa foi abandonada. Não é Área Metropolitana do Porto, é terra de ninguém. Nada, não existe, aliás, nada existe a não ser o pecado.
Quando foi lançado o projecto do Metro do Porto, no início dos anos 90, surgiu com ideia clara que todos conhecemos. A aposta teria que ser certeira e para garantir viabilidade, e uma boa argumentação técnica, o projecto nasceu fundamentalmente em cima da rede de via estreita, a bitola métrica (com 1 metro de distância entre os carris). Isto é, grande parte da rede seria a substituição de um “velho” sistema de transportes por um novo e urbano.
A rede aproveitava os canais as linhas da Póvoa de Varzim e da Trofa. Deste modo, garantindo desde logo uma procura de passageiros base, o Metro ganhava terreno. A estratégia passava por destruir velhos mitos como o terreno rochoso e a falta de necessidade. Tudo foi feito, sobretudo, com o argumento da justiça da proposta e este facto não é menor.
Lembro bem quando perante uma enorme plateia das chamadas lideranças pensantes, Ferreira do Amaral, então Ministro das Obras Públicas, declarava na EXPONOR que não fazia qualquer sentido tal obra, nem sequer pensar nela. Declarava então o Ministro que era dispêndio de dinheiro, desnecessário e que o país não tinha recursos para tal.
Foi uma luta dura. Na liderança o então Presidente da CM do Porto, Fernando Gomes, apoiado nos outros autarcas, sendo muito importante nesta manobra Vieira de Carvalho. O autarca da Maia estabelecia a ponte e juntava apoios dentro do seu partido da altura que governava o país, o PSD.
Houve muitos problemas, muitos sobressaltos, mas a obra arrancou. Foram tirados os carris das linhas da Trofa e da Póvoa, tal como previa a 1ª fase. A obra seguiu. Foi tudo feito, menos a ligação a partir do Castêlo da Maia (ISMAI) até à Trofa. Ficou para uma segunda fase, depois para uma terceira e agora parece que para nunca.
Nos anos 90 o Governo também foi contra Metro e depois…
O Governo anunciou novos investimentos e ao mesmo tempo enterrou a extensão da Trofa, mais concretamente a conclusão da 1ª fase. A Trofa desapareceu. Ficou sem comboio e sem Metro. Apesar de haver um projecto de resolução da Assembleia da República, apresentado pelo PCP e aprovado por unanimidade, a garantir que a linha seria construída. Apesar de haver fundos comunitários, o Governo enterrou o projecto, ou melhor amputou o Metro.
O Governo até pode apresentar os argumentos da procura, que nem sabemos bem se são verdadeiros, mas a Área Metropolitana não pode aceitar tal. Há muitas razões e uma suplementar, a justiça. Não se pode tirar prometendo algo melhor e depois tirar tudo. Os autarcas têm um dever institucional de solidariedade metropolitana, caso contrário a própria Área Metropolitana não vale nada.
Este desenlace anunciado tem uma agravante, o Ministro Matos Fernandes nem sequer pode ser acusado de ser um daqueles que não conhece o país e por isso tem mais responsabilidades. Matos Fernandes é do Porto e se não conhece a Trofa é ainda mais grave. Pode ser que tudo isto mude.
Até o Ministro Ferreira do Amaral mudou de opinião e em 2003 teve a dignidade de reconhecer publicamente que estava errado e que a obra falava por si. Ferreira do Amaral disse na altura que achava mesmo que o Metro do Porto deveria ter sido feito 20 ou 30 anos antes e disse textualmente que tinha feito uma má avaliação do projecto. Só lhe ficou e fica bem, reconhecer que errou. Matos Fernandes tem ainda tempo para corrigir. Perante todos os factos o Governo está destrunfado de argumentos, ou melhor: destrofado!