A notícia do JN sobre os preços da TAP praticados em Vigo, criando concorrência com o Aeroporto Sá Carneiro, puseram outra vez toda gente a falar e falaram os de sempre com os argumentos de sempre. Estão a prejudicar-nos? Pois isso é verdade, mas eu direi que quem manda se está a borrifar para o assunto.
Desde esta espécie de privatização, com uma concessão a 50 anos, dos aeroportos portugueses à VINCI que se temia o pior.
Sempre soubemos que dos tempos do cavaquismo havia um projecto firme de criar um pólo concorrente a Madrid. Lisboa, a Cidade Região, teria esse grande desígnio: ser uma alternativa de investimento a Madrid. Para isso o país teria todo que se sacrificar. A argumentação, concluía, depois os ganhos estendiam-se ao país. Sempre o problema das médias. Sempre o problema das médias. Se numa mesa há um pão e duas pessoas, estatisticamente cada um comeu meio, mesmo que uma dessas pessoas não tenha comido nada.
A virtude da declaração pública deste projecto foi que se deu nome àquilo que já todos sabíamos há muito mas ninguém assumia. Claro que a sangria não foi a 100%. Houve quem reclamasse e conseguisse resultados. Mas, em abono da verdade, temos que ter memória boa e boa memória. Lembrar-nos que nada foi dado, tudo foi conquistado e não foi com choradinhos, foi com palavras firmes, com razão e argumentos.
Vejamos.
O Aeroporto, as autoestradas, a Porto 2001, o Porto de Leixões, as obras na cidade e na Região, etc, só aconteceram para calar e estancar o que se julgava ser uma unidade regional e regionalista forte.
Estamos a pagar o preço de uma suposta racionalidade, na verdade táctica política de Marcelo e de Guterres, que enterraram este imperativo.
PARA A TAP VIGO E PORTO VALEM O MESMO
O país não pode ser pequeno para umas coisas, mas considerar que tem uma cidade/região enorme. Estamos todos, o país todo, a pagar o preço de terem percebido que afinal os desejos regionalistas só o eram para uns quantos. De então para cá só tem piorado. Somos mais frágeis.
A TAP sempre teve o desejo de centralizar os voos internacionais em Lisboa, fazendo o mesmo que Madrid faz em Espanha. Este sempre foi o objectivo da TAP e a ponta aérea enquadra-se nesse plano. Não é uma prenda, não é algo bom.
Está tudo conjugado, a TAP segue a lógica do projecto assumido pelo cavaquismo, mas enraizado desde sempre. É célebre a importação francesa em que se declara que tudo o resto é paisagem. Ao vender voos que chegam a ser 450 euros mais baratos para o Brasil a partir de Vigo, a TAP só está a estender a ponte. É só uma extensão, aproveitando o desinteresse de Madrid na Galiza e o crescente definhar dos aeroportos galegos. A Vinci agradece.
A Vinci, a empresa que gere a ANA, que tem a tal loooooonguíssima concessão tem como maior negócio a construção. Ora vejam lá como já se fala na construção de um segundo aeroporto na área de Lisboa ? Não duvido da necessidade, se o dizem deve ser verdade, mas primeiro entupiram o Aeroporto Humberto Delgado.
O AEROPORTO DO PORTO ESGOTA A CAPACIDADE ESTE ANO
Os nossos protagonistas andam distraídos e têm obrigação de saber mais. Fala-se de um segundo aeroporto, mas já alguém reparou que a capacidade do aeroporto Sá Carneiro esgota-se este ano? Em 2016 foram transportados 9 milhões e 400 mil passageiros, a previsão para 2017 é de 10 milhões e 700 mil, a capacidade esgota-se nos 11 milhões.
Essa capacidade só poderá ser superior com uma grande ampliação. Obras muito grandes, com uma nova pista, ampliação da gare, deslocação da torre de controlo, entre outras coisas. Mesmo assim com um limite de 15 milhões de passageiros, segundo a ANA apontava em 2007. Alguém ouviu falar de obras? Não, ninguém. E elas não estão só atrasadas, já deviam estar prontas e nem se pensa nessa hipótese.
Eu não sei se Vigo faz também parte de uma estratégia conjunta TAP/VINCI para atrasar o esgotamento da lotação do aeroporto do Porto; mas é bom que se esteja atento. Se a capacidade esgota em 11, se calhar, com um jeitinho vai a 12 e quem sabe não baixa e assim se poupam uns largos milhões ? O que se diz depois ? Não justifica.
Há um outro dado ainda que quero acrescentar.
O deputado do PSD em 2014, Nuno Reis, eleito por Braga, apresentou um requerimento na Assembleia da República. Pedia que fosse revelado o contrato assinado com a VINCI, particularmente a parte do Aeroporto do Porto. Queria que se revelassem as tais clausulas de salvaguarda que asseguravam que uma gestão integrada e não concorrencial não prejudicaria o Aeroporto Sá Carneiro. O Governo nunca revelou o contrato. Nuno Reis por caso até era deputado do PSD num Governo PSD/CDS, não valeu de muito.
Consultem estas duas ligações
http://www.tvi24.iol.pt/sa-carneiro/28-02-2007/aeroporto-do-porto-pode-crescer-ate-15-milhoes-de-passageiros-por-ano
https://aviação.pt/index.php?topic=3498.0