Na semana passada, foi publicado um estudo sobre as preferências políticas dos habitantes da União Europeia. Na referida, conclui-se que nos países do centro e leste da Europa, cerca de 60% da população não possuí uma linha ideológica definida. Estes são os valores mais elevados dos últimos 50 anos e contrastam, com aquela faixa reduzida do eleitorado, que tradicionalmente decidia as eleições a favor de um dos dois partidos do centro. O denominado eleitor mediano, ou seja, a faixa da população com um rendimento entre a média e a mediana e que geralmente é decisiva nas eleições, responde em mais de 80%, do aumento verificado pelos investigadores. Assim sendo, o grupo de indecisos engloba as camadas da população que suportaram os custos da globalização, antigos funcionários de industrias que se deslocalizaram para as economias emergentes, acabando por encontrar refúgios em empregos, no sector dos serviços, mal pagos, precários e temporários. Esta massa maltratada e esquecida pelos governos de centro esquerda e direita são terreno fértil para partidos extremistas que proliferam por toda a Europa, apregoando slogans, anti imigração, antiglobalização e pró-proteccionismo. A ascensão do Aurora Dourada na Grécia, da Frente Nacional em França, e de partidos ligados à extrema-direita em Países como a Polónia e a Áustria evidenciam os tremendos riscos associados à incapacidade dos governos Europeus responderem, de forma adequada às preocupações e às exigências dos cidadãos. Mesmo a Austrália, um país construído por emigrantes europeus e mais recentemente asiáticos e onde se realizaram eleições recentemente, ¼ dos deputados eleitos pertenciam a pequenos partidos de extremistas. Relembre-se que após a segunda guerra mundial, as pessoas optaram pela democracia porque perceberam que o seu nível de vida e as suas expectativas estariam no centro dos objectivos governamentais. O crescimento do Estado social e a introdução de impostos progressivos permitiu reduzir as desigualdades, que protegiam as classes afectadas pelo desemprego (quase inexistente). No entanto, com a redução da abrangência e do valor dos apoios sociais e o crescimento do desemprego, o nível de desigualdades disparou, criando um fosso enorme, que tem vindo a erodir os rendimentos das classes médias. Neste aspecto o actual sistema político mostra-se incapaz de reflectir e representar as populações, o que cria o clima perfeito para o surgimento de movimentos perigosos, que poderão colocar em causa o futuro das democracias ocidentais.
João António do Poço Ramos, Póvoa de Varzim, contacto: 912621217 Nº 13751679