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O perigo da candidatura de Rangel se tornar um albergue espanhol

Há muito que me desiludi com Rui Rio e a sua liderança sem estratégia, conflituosa, confinada a um grupo de amigos, diria mesmo desnorteada, apesar de nas últimas eleições directas ter-lhe dado o benefício da dúvida tendo apoiado a sua candidatura.

Hoje, ao fim de três anos, Rio não conseguiu ganhar uma eleição.

Hoje não tenho dúvidas que Rio que não foi capaz de construir uma alternativa à governação socialista credível que tivesse reconquistado a confiança dos portugueses.

Não vamos encobrir o sol com uma peneira. Estes são factos indesmentíveis.

O ciclo político de Rui Rio chegou ao fim. Não vale a pena continuar a chover no molhado.

Agora é tempo de tratar do futuro. Do futuro do PSD e de Portugal.

Este novo tempo terá que passar por novos protagonistas e novas propostas que mobilizem os portugueses.

É público que apoio Paulo Rangel. E até estou muito à vontade porque o fiz antes de anunciar a sua candidatura.

Neste momento não tenho quaisquer dúvidas que Rangel é o militante melhor preparado para assumir a liderança do PSD e a oposição ao governo de António Costa.

E quando se trata de eleger o presidente do PSD é indissociável que estamos simultaneamente a escolher um candidato a Primeiro-Ministro de Portugal.

Não apoio Rangel por capricho ou porque pretenda ocupar algum lugar nos futuros órgãos do PSD. Faço-o com o sentido da responsabilidade de que o país precisa de uma alternativa política responsável, forte, mobilizadora mas que também seja um forte sinal de esperança para os portugueses.

Hoje não tenho certeza que Rui Rio seja  recandidato à liderança do PSD apesar de lhe reconhecer uma capacidade de resiliência sem fim. Não porque não fosse a sua vontade mas porque os seus principais apoiantes – os que dominam os sindicatos de voto –  estão a desertar a uma velocidade supersónica para se posicionarem em relação ao futuro.

Foi sempre assim. E este momento não é excepção. Os ratos são sempre os primeiros a abandonar o navio.

Não porque estejam preocupados com o futuro do PSD ou do País – porque nunca estiveram – mas sim por uma questão de sobrevivência política pessoal na tentativa de desesperada de se manterem à tona para manterem os seus lugares.

É a partir deste momento que entra a minha preocupação com a candidatura de Paulo Rangel se poder tornar um Albergue Espanhol onde tentam todos entrar apesar das divergências serem públicas e notórias mas que tentam atenuar disfarçando que o fazem em nome da unidade do partido e em prol do país quando na verdade se trata do desespero para manter os “tachos” mas também, não raras vezes, porque começa a cheirar a poder.

Um caso paradigmático é o de Cancela Moura, presidente da concelhia de Gaia do PSD o maior apoiante de Rio até à passada quarta-feira, apenas ultrapassado pelo omnipresente deputado e secretário-geral do PSD José Silvano, mas que já se tornou, segundo informações que tenho como fidedignas, num apaixonado apoiante de Rangel.

Suponho que será hoje um apaixonado apoiante de Rangel como foi um fanático apoiante de Rio.

É bom recordar que Cancela Moura destruiu a candidatura de António Oliveira à Câmara Municipal de Gaia, com o beneplácito de Rui Rio, que dois meses antes tinha escolhido o antigo jogador e treinador do Futebol Clube do Porto, com o objectivo único de ser o próprio o candidato à terceira maior autarquia do país depois de ter sido cilindrado nas eleições autárquicas de 2017 onde o PSD em coligação com o CDS ficou reduzido a 20,30% dos votos e com apenas dois vereadores quando num passado recente o PSD chegou a atingir 65% e a eleger 8 vereadores.

António Oliveira que com o seu prestígio pessoal poderia almejar bater-se de igual para igual com o socialista Eduardo Rodrigues. Aliás o antigo seleccionador nacional tinha sido a escolha pessoal de Rio que acabou por dar o dito por não dito – talvez fazendo contas ao forte sindicato de votos de Cancela – cedeu às exigências deste tirando o tapete a Oliveira que acabou por desistir da sua candidatura.

O primeiro objectivo de Cancela Moura estava cumprido. Agora apenas faltava convencer Rio a apoiar a sua recandidatura agora em 2021 a que Rio acedeu com direito a pomposa festa em Gaia onde o presidente do PSD marcou presença e em que a troca de elogios e juras de amor eterno entre ambos contam-me que foi de chorar até às lágrimas.

Nestas últimas autárquicas Cancela Moura, novamente numa coligação agora alargada ao PPM, ficou-se pelos 17,57% conseguindo a proeza de perder quase 8000 votos em relação às Autárquicas de 2017.

Nos últimos oito anos Cancela Moura conseguiu também a proeza de perder cerca de 4000 militantes reduzindo a militância a 20% quando Gaia já tinha sido a maior concelhia do PSD do País com mais de 5000 militantes.

O que está acontecer em Gaia certamente não será caso virgem estando certamente a replicar-se em muitas outras concelhias do PSD ao longo do País.

Temo que outros “Cancelas”, alpinistas políticos e especialistas em pomposas derrotas atrás de derrotas, estejam a surgir de Norte a Sul do País posicionando-se, desde já, para o novo ciclo político que aí vem repleto de muitos e difíceis desafios mas que apenas podem ser ultrapassados com sucesso com uma verdadeira e real renovação do PSD.

Não acredito que uma mudança que fique apenas pela alteração do líder do partido produza resultados muito diferentes dos que Rio obteve nos últimos três anos.

Estou convicto que Paulo Rangel sabe que este novo tempo para o PSD exigirá novos protagonistas e novas propostas para o País.

Estou também convicto que Paulo Rangel não permitirá que o PSD com a sua liderança se torne num albergue espanhol mas não ficaria de bem comigo mesmo se não deixasse esta minha preocupação, não por mim, mas pelo PSD mas acima de tudo pelo meu País.

Uma viagem não interessa como começa mas sim como termina. Aqui fica o aviso a Rangel porque existem erros em política que não raras vezes se pagam com derrotas.

Paulo Vieira da Silva

Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

 

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