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O ESTADO DO NOSSO FUTEBOL

Paulo Vieira da Silva

Este fim de semana assistimos a um momento que deve envergonhar o futebol português.

Estou a falar do jogo entre a B-SAD e o Benfica que lamentavelmente se realizou com a equipa dos azuis de Belém a alinhar apenas com nove jogadores sendo dois guarda-redes em consequência da infecção pelo novo coronavirus que atingiu a esmagadora maioria dos seus atletas, incluindo treinadores e staffs dirigente e médico.

Um caso que ultrapassou as fronteiras do país com alargada repercussão na imprensa internacional. Uma vergonha para o futebol português e para Portugal.

Todos criticaram o que país assistiu na passada sexta-feira mas nenhuma das entidades responsáveis que estão em causa –  Liga de Futebol, Clubes ou Direcção-Geral de Saúde – assumiram quaisquer responsabilidades.

Infelizmente é apenas mais um caso grave, num país em que a culpa morre sempre solteira.

Não podemos ignorar que a Liga portuguesa não é uma competição qualquer. Trata-se de um negócio que deu origem ao quarto maior volume de receitas com transferências de jogadores no mundo.

O nosso futebol deveria ser tratado em função da sua importância económica com total transparência assente em fortes mecanismos de escrutínio que impedissem as relações pouco transparentes e os conflitos de interesses existentes entre as entidades organizadoras das competições, clubes, sociedades anónimas desportivas e empresários de jogadores.

No passado dia 23 de Novembro foi tornado público um estudo do National Sports Governance Observer (Observatório Nacional da Governança Desportiva) que foram avaliadas mais de 100 federações desportivas em 15 países na Europa, Ásia e América.

Este relatório realizado por investigadores especialistas nesta área baseia-se na análise estratégica das melhores práticas usadas avaliando a governança das federações desportivas destes países em quatro dimensões: transparência, processos democráticos, mecanismos de controlo e responsabilidade social.

A pontuação média deste índice de governança é de 40%, o que significa, numa análise qualitativa, que se pode considerar como de qualidade moderada. Muito pouco em pleno século XXI.

Apenas três países tiveram nota positiva, a Sérvia com 59%, os Estados Unidos da América com 53% e a Bósnia e Herzegovina com 51%.

Mais uma vez Portugal destaca-se neste ranking pela negativa ficando abaixo de meio da tabela dos estados avaliados com uma nota de 39%. O relatório do  Observatório Nacional da Governança Desportiva evidencia que Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer no que diz respeito à transparência, democraticidade e mecanismos de escrutínio no futebol, em particular, e no desporto, em geral.

Paulo Vieira da Silva

Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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