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Mitos Urbanos

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O “gap” ou a diferença entre as percepções da opinião pública e a realidade são bastante grandes e podem provocar alterações graves ao nível das políticas seguidas pelos governos nacionais. A título de exemplo, repare-se que os Americanos pensam que cerca de 33% da população é imigrante, quando na realidade esta não excede os 14%. Da mesma forma, os britânicos estimam que 24% da população é muçulmana, embora o seu peso na comunidade, não ultrapasse os 5%. Os gastos com o governo em áreas sociais constituem igualmente um terreno fértil para falsos mitos e crenças. Num inquérito realizado em Portugal, os individuos afirmavam, que cortando as reformas milionárias e o rendimento social de inserção, os problemas da Segurança social estariam resolvidos. Porém, as reformas milionárias representam 0,1% dos gastos totais com pensões e o rendimento social de inserção apenas corresponde a 1,7% dos encargos com todos os apoios sociais. Por outro lado, quando questionados relativamente aos gastos do governo com subsídios de desemprego, os Portugueses, sugeriam que por cada 100 euros aplicados em apoios sociais, 40 destinavam-se a financiar esta rubrica, sendo o valor real muito inferior (situa-se abaixo dos 12 euros).

Na base destes mitos ou percepções erradas encontra-se uma desconfiança anormalmente elevada relativamente aos dados de fontes governamentais ou importantes instituições independentes. Esta dificuldade em compreender a realidade dos factos, tem vindo a promover o crescimento de movimentos populistas em toda a Europa, dos quais se destaca a Aurora Dourada na Grécia, a Frente Nacional na França ou mais recentemente o Partido austríaco da liberdade que recolheu nas últimas eleições mais de 30% dos votos. Os media não têm exercido o seu papel neste campo, ao conferir um peso demasiado excessivo a acontecimentos esporádicos que não constituem a regra e ao não informarem correctamente os telespectadores.

Estes problemas estendem-se com impactos relevantes ao sector da finança, actividade, na qual os compradores, não possuem muitas das vezes os conhecimento adequado para investir em determinados produtos complexos. Num estudo realizado nos EUA sobre literacia financeira, concluiu-se que mais de 2/5 dos inquiridos não conseguia distinguir uma taxa de juro simples de uma taxa de juro composta. No mesmo estudo, os investigadores descobriram que apenas 50% dos americanos tinha conhecimento de que os fundos de pensões não possuem garantias estatais. Infelizmente os aforradores ou investidores nacionais não compreendem que o investimento em produtos financeiros possui características diferentes dos restantes bens. Primeiro, o preço muitas das vezes contratualizado com a instituição bancária omite o impacto anual dos encargos com taxas e comissões, nos retornos de longo-prazo. Por outro lado, o desempenho do produto deve ser medido apenas ao fim de vários anos de maturidade e não no curto prazo. Por último, as assimetrias de informação são extremamente elevadas entre os vendedores e os compradores, o que torna os consumidores presas fáceis, para as instituições financeiras, com o conhecido caso BES à cabeça.

Neste aspecto, os planos poupança reforma podem constituir um importante meio para a proliferação de mitos ou falsas realidades. Nos EUA, 40% dos americanos subestimava a esperança média de vida em 5 anos, o que se reflecte em expectativas relativamente ao valor a poupar durante a reforma abaixo do necessário, com consequências evidentes, ao nível da pobreza.

Para evitar as consequências individuais e colectivas deste tipo de desconhecimento, o governo deveria promover a literacia financeira, social e cultural da população, através da integração nas escolas de acções de formação e disciplinas apropriadas para o efeito. No caso, das populações adultas e idosas, o mais importante seria utilizar os meios de comunicação social, como programas de tv bastante conhecidos, convidando personalidade de várias áreas para explicarem este tipo de questões. Por último, seria essencial credibilizar as instituições governamentais ou públicas, como o Banco de Portugal e conceder maiores instrumentos legais, humanos e financeiros às entidades reguladoras, de forma a que apresentar resultados sustentáveis.

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