A concorrência que impera no campo jornalístico, nomeadamente na televisão, tem como efeito uma certa “ pressão de urgência ”. E a concorrência pressupõe rapidez.
Tal como diz Bourdieu, “ … a televisão não é muito favorável à expressão do pensamento ” (Bourdieu, 1997), porque não há tempo para os longos encadeamentos lógicos que o pensamento implica. Neste sentido, em televisão, a urgência do pensamento dá lugar aos “ fast-thinkers ”, isto é, àqueles que pensam rápido, porque pensam por ideias feitas. Estas “… são ideias aceites por toda a gente, banais, conformes, comuns, mas são também ideias que, quando as recebemos, já as tínhamos recebido, de tal maneira que o problema da recepção não chega a pôr-se.” (Bourdieu, 1997).
No fundo opera-se uma comunicação instantânea. Também de acordo com Bourdieu, ao privilegiar-se os “ fast-thinkers ” e o pensamento rápido, a televisão propõe uma espécie de “ fast-food ” reflexivo, ou seja, produz “ alimentos pré-digeridos ” uma vez que não existe tempo para o verdadeiro pensamento.
Nas palavras do próprio Bourdieu, “ A televisão é um universo em que temos a impressão de que os agentes sociais, ao mesmo tempo que têm as aparências da importância, da liberdade, da autonomia e, por vezes, até uma aura extraordinária (basta lermos os jornais da televisão), são fantoches de uma necessidade que é preciso descrever, de uma estrutura que é preciso detectar e trazer à luz do dia. ” (Bourdieu, 1997).
A televisão detém um monopólio de facto sobre os instrumentos de produção e de difusão a grande escala da informação e, através destes instrumentos, sobre o acesso dos simples cidadãos, mas também dos outros produtores culturais, cientistas, artistas, escritores, ao que por vezes se chama “ o espaço público ”, quer dizer à grande difusão “, para além do “ …poder sobre os meios de expressão pública, de existência pública, de reconhecimento e de acesso à notoriedade pública ….” (Bourdieu, 1997).
É utilizando este monopólio e este poder que os jornalistas e a televisão podem impor à sociedade a sua visão do mundo e o seu ponto de vista, tentando impor a sua ideologia a toda a sociedade, transformando-a, assim, numa ideologia dominante, garantindo a manutenção da sua posição igualmente dominante. raças ao monopólio e ao poder que possuem o seu ponto de vista e no caso deste ser aceite e interiorizado pelos agentes sociais, veem assim aumentado consideravelmente o seu reconhecimento e o seu poder. (cont.)