No nosso país, a abstenção eleitoral tem estado associada às características rurais e periféricas dos concelhos. Porém, entre 1983 e 2015, estas razões têm perdido importância na explicação das diferenças de participação eleitoral entre os concelhos. A abstenção tem crescido muito nas áreas urbanas e semi-urbanas, diminuindo o respectivo diferencial em relação às áreas rurais”. Aliás, nas eleições e referendos, entre 1995 e 2015, as zonas rurais tiveram um impacto positivo sobre a participação eleitoral, com a excepção do referendo do aborto.
Tradicionalmente os homens votavam mais que as mulheres, atendendo a que a estas estava reservado um papel secundário na sociedade, nomeadamente, afastado da política. Porém, desde os anos 70, que estas diferenças têm-se vindo a diluir de forma muito clara e, nos dias de hoje, não possui um efeito significativo sobre a participação eleitoral nos países ocidentais.
Em Portugal, nesta matéria, os dados mais recentes demonstram também que não existem diferenças significativas nos níveis de participação eleitoral entre mulheres e homens.
O sentido de voto pode ser também analisado em função do modelo de clivagens sociais. A primeira clivagem teve origem nas populações ameaçadas culturalmente pela uniformização estatal que se opuseram às elites nacionais dominantes produzindo clivagens territoriais com base religiosa/étnico/cultural. Este problema da heterogeneidade social política não existe, o que não significa que não existam diferenças espaciais sócio-económicas.
A segunda clivagem resultou da divisão entre “… as aspirações mobilizadoras do estado nação e as exigências corporativas das igrejas, o que foi muito mais que uma questão económica” (Lipset e Rokkan, 1967). Nos países católicos e nos países mistos a clivagem religiosa teve uma grande importância política, mesmo quando não deram origem à formação de partidos religiosos. Em Portugal, a clivagem religiosa teve expressão política, desde o tempo do Liberalismo oitocentista até a Abril de 1974. Depois do período democrático, com a excepção de alguns episódios entre a revolução de Abril de 74 e o 5 de Novembro de 1975, a questão religiosa deixou de estar no centro da discussão política.
Porém, a pertença a uma classe operária associada a uma prática religiosa nula implicará uma maior tendência para votar à esquerda. Por sua vez, uma forte componente religiosa pode determinar uma heterogeneidade na atitude política da classe operária. Tal como é referido na obra de Knutsen e Scarborough ( 1995) vão mais longe e consideram que votar em determinado partido só por pertencer a determinado grupo social não constitui «voto com base no sistema de clivagens» (cleavage voting), antes um «voto estrutural» (structural voting)”.
Aliás no caso da clivagem religiosa, muitos autores como Lipset, Rokkan, Lijphart, Dalton, entre outros, defendem que os indivíduos com maior integração religiosa têm maior propensão para votar nos partidos de direita. Por outro lado, os indivíduos que tem uma menor integração religiosa têm maior propensão para votar nos partidos de esquerda. Esta propensão é designada por “voto religioso”.
Também em Portugal a clivagem religiosa é mais importante que a clivagem de classes na explicação das tendências e alinhamentos dos eleitores.