
Ler o País atual com os olhos da história
“O meu presente é sempre o meu passado ” (Bento Espinosa)
As figuras políticas da atualidade portuguesa : o nosso acelerado e afetuoso Presidente; o habilidoso Dr. Costa ; o bem avisado líder da oposição ; as nervosas deputadas do Bloco ; o sempre igual e coerente líder do PCP. Também, não podemos esquecer alguns membros da Corte em que a política só é opção porque precisam dela para existirem. Todos são produtos ou subprodutos do sistema.
Há dezenas de anos, eram outros, muito semelhantes , que Eça e Ramalho descreveram e, Bordalo Pinheiro desenhou ou esculpiu. Até, a cíclica falência do Estado Português, coincidia com o esbanjar de uma riqueza virtual, porque provinha de empréstimos ou da severidade dos impostos . A reforma do Estado, anunciada no início do século passado , consistia em fazer cortes salariais na função pública que, o Governo seguinte, tratava de reverter.
A elite da Nação que, hoje como ontem, reside junto do Poder, absorveu os genes que a cultura salazarista moldou, endeusou um Estado omnipresente,burocrático e centralizador que alimenta um socialismo ultrapassado, aliado a um corporativismo ativo. Assim se gerou uma sociedade clientelar, com mais de cinco milhões de dependentes e milhares de empresas, que querem que nada mude.
Pode debater-se muito, aparecerem todo o tipo de pensadores : humanistas; europeítas; antieuropeístas; favoráveis ou desfavoráveis ao euro; tementes ou adeptos do liberalismo; sociais democráticos e outros. Portugal só se alterará, quando as pessoas e a economia, acreditarem em si e culturalmente se libertarem do Estado. Esta verdadeira revolução, deveria ser o fulcro das nossas preocupações. É preciso acreditar na inevitabilidade do mercado, atraindo investimento. Fomentar a inovação e o valor acrescentado -valorizando empresas e trabalhadores .Colocar as pessoas no centro das preocupações definindo uma política social de equidade e combate à exclusão.
O mundo está perigoso. Há fumos de nacionalismo e extremismo por todo o lado. Cresce uma desconfiança generalizada entre os Países, governados por líderes fracos que não assumem procedimentos transparentes. No nosso País, as dificuldades financeiras e a dívida galopante , estão sistematicamente a ser objeto de engenharia financeira, a coberto de uma retórica que confunde os cidadãos.Abusa-se de uma linguagem hermética e indecifrável para a maioria dos mortais. Este nevoeiro encobre o óbvio. O Governo , por muito que se esforce, não pode ter objetivos coerentes, para além das reversões eleitoralmente eficazes.
Estamos num mundo e numa sociedade muito liquefeita . A solidez das Instituições muda de consistência , na razão indireta da capacidade crítica dos cidadãos, anestesiada pelo “politicamente correto” e pela ação alienante e massificadora como se comunica. Esta sociedade de solidão, dificilmente está preparada para uma democracia exigente e muito menos para vencer crises ou enfrentar eventos adversos.
Assim , vai sobrevivendo este Governo frágil, ungido pelo Presidente e amparado por próteses . Os seus horizontes são demasiado limitados .Os “parafusos” que unem , não permitem grandes caminhadas Para já, o futuro do País segue a chaga do determinismo da dívida ,tão bem desenhado por Bordalo Pinheiro* . Afinal a história repete-se !
(*) – (O moto-contínuo….constitucional – museu Casa das Histórias -Cascais )