Tenho noção que hoje existe um claro afastamento das pessoas em relação à Igreja Católica. Os Padres deixaram de ser pastores para serem administradores. Hoje quando nos dirigimos a uma Igreja deixamos de ser atendidos pelo Clérigo para sermos atendidos por uma secretária administrativa.
Hoje, em muitos casos, a Igreja vive numa situação completamente antagónica àquela evocada na parábola do Pastor. Nessa parábola o Pastor tinha noventa e nove ovelhas na corte e foi buscar a que se perdeu. Porém hoje vivemos numa situação inversa em que parece termos apenas uma ovelha no curral e noventa e nove que andam perdidas. Hoje a Igreja pouco faz para as recuperar. A Igreja deve sair à rua ao encontro das pessoas que muitas vezes, tal como as ovelhas, andam perdidas. A missão da Igreja é sair do seu espaço físico, ir de encontro às pessoas e anunciar o Evangelho. Este é o maior conforto que as pessoas que acreditam em Cristo podem receber. O conforto espiritual que tão arredado anda da nossa sociedade.
Nada adianta ter uma Igreja ou um Centro Paroquial fantásticos se estão vazios, vazios de pessoas, mas sobretudo vazios de Espiritualidade e Fé.
E escrevo sobre isto porque me chegou ao conhecimento que o Sr. Padre Almiro Mendes, da paróquia de Canidelo, em Vila Nova de Gaia, pessoa que não conheço, escreveu uma missiva às pessoas da freguesia pedindo a sua colaboração financeira para a construção da Nova Igreja e Centro Paroquial de Canidelo.
Até aqui as coisas parecem-me aceitáveis. Porém o que já me não parece razoável é nessa carta o Padre Almiro dizer “que já temos dinheiro que chega e sobra para esta grande obra. Sim, temos o bastante e ainda resta muito, só que está nas vossas carteiras! É preciso agora oferecer algum à Paróquia!”
Provavelmente até pode ser a faceta humorística do Padre Almiro a revelar-se, porém, confesso, que o tom utilizado parece-me quase de gozo. Entendo que esta não é a forma adequada de alguém pedir a colaboração das gentes de Canidelo ou de qualquer outra parte do Mundo.
Estranho também o facto de a carta conter um documento que diz “Desejo colaborar na construção da Nova Igreja e Centro Paroquial de Canidelo e comprometo-me a dar por mês a quantia de ………. €”. Neste destacável a pessoa pode até assinalar a forma como pretende efectuar o pagamento do donativo sendo que uma das possibilidades é “Desejo que venham a minha casa fazer a cobrança”.
Parece-me que esta mensagem passa um tom “mercantilista” longe do ideário de Jesus e da mensagem do Papa Francisco pretendendo criar um compromisso de obrigatoriedade do donativo disponibilizando-se a Paróquia de Canidelo – veja-se lá – para fazer a cobrança ao domicílio. Confesso que não conheço o funcionamento da Paróquia de Canidelo mas estará esta mesma disponível para se deslocar a casa dos paroquianos para levar o conforto e a espiritualidade da palavra de Jesus junto das pessoas. Não será, antes de mais, esta a verdadeira função da Igreja?
Esta forma de relacionamento apenas afasta ainda mais as pessoas da Igreja. Penso que a Igreja deve repensar esta forma de se relacionar com a comunidade de forma a evitar que, cada dia que passa, seja cada vez menos uma Igreja de Pessoas.