Sob a forma de passarinho, ou de qualquer outra espécie animal ou vegetal, revela-se imperioso que Nícolas Maduro seja, urgentemente, ungido.
Com uma Assembleia Nacional, eleita em janeiro, contrária à sua ideologia, presidida por um opositor experiente, Henry Ramos Allup, e apesar das medidas, politicamente coercivas, introduzidas por Maduro, um dia antes da instalação do novo Congresso (retirou aos parlamentares o direito de nomear dirigentes para o Banco Central da Venezuela e suspendeu “temporariamente” a publicação de estatísticas económicas), o cerco aperta-se.
Nícolas Maduro, imbuído de puro desvario, manda e desmanda, diz e contradiz, faz e desfaz, inconsciente da guerrilha que a maioria opositora na Assembleia, e pior, o Povo, lhe declarou.
A crise económica que a Venezuela atravessa não é caso recente. Já em 2013, Juan Hidalgo, analista de políticas públicas da América Latina, do “Cato Institute”, vaticinava um futuro negro. À data, estimava-se que a inflação (real) rondasse os 330% (!!!), e dados mais recentes, do FMI, projetam os valores para cerca de 700% (!!!!!), que poderão evoluir, até 2021, para os 4600% (!!!!!!!!!). Naquela altura, já rareavam produtos. Hoje, de acordo com o índice de escassez, divulgado pelo Banco Central da Venezuela, um em cada quatro produtos básicos não está disponível nos supermercados, não há medicamentos, nem luz, e as pilhagens são recorrentes.
A somar a esta panóplia caótica, sinalizam-se os altíssimos níveis de criminalidade, curiosamente, três vezes superiores aos verificados no México: em 2015, o Observatório Venezuelano da Violência, assinalava que 77 pessoas por dia eram assassinadas naquele País.
Estes dados inquietantes atingem a grande fatia da população: pobres e classe média, o que tem gerado o protesto generalizado, como aquele que assistimos recentemente, em que centenas de pessoas preferiram a fila, para a assinatura de um referendo que permita a revogação do mandato de Maduro, à do supermercado.
Com o País a viver um verdadeiro cenário de guerra civil, a aparente medida facilitadora face à escassez de eletricidade, imposta ao funcionalismo público, de redução da jornada laboral, é apontada, pela oposição, como castradora do processo de afastamento do Presidente, considerando os dias úteis legalmente previstos, para o Conselho Nacional Eleitoral ratificar o processo.
Num País paralisado, assiste-se por um lado, ao decretar desde o início do ano, por Maduro, do estado de emergência económica (altura da nomeação, para Ministro da Economia, de Salas, defensor da teoria do Estado Comunal e o apregoado cérebro à retaguarda do Presidente, para salvar a economia do País, entretanto afastado, volvidos apenas três meses), e por outro, ao documento produzido pela Assembleia Nacional, que afirma estar o País a sofrer grave crise humanitária, densificada num estado de emergência sanitário.
Não devia ser para isto, eu diria, que se fazem revoluções.