Na Argentina, os jogos das principais equipas são transmitidos em sinal aberto para todo o país, em virtude de um acordo celebrado pelo anterior governo e a liga de clubes, que assegurou o pagamento dos direitos televisivos. O valor do acordo mais do que duplicou as receitas dos emblemas argentinos, o que provocou uma enorme euforia despesista, reflectindo-se numa politica agressiva de contratações e no aumento dos gastos com a massa salarial. No entanto, o actual governo, acossado pelo enorme défice fiscal, decidiu cancelar o contrato realizado pelo anterior executivo, criando um impasse tremendo, que levou inclusivamente ao cancelamento da ronda inicial do torneiro “apertura”.
Esta situação constitui um alerta para os clubes nacionais que recentemente viram duplicados os valores relativos aos direitos de transmissão televisiva dos seus jogos para os próximos anos. A liga portuguesa é pouco atractiva e o próprio mercado nacional é demasiado pequenos para os montantes acordados entre os emblemas e as referidas companhias de comunicação, podendo verificar-se um desfecho semelhante ao ocorrido na Argentina ou pelo menos a uma renegociação dos contractos com a redução dos pagamentos. Assim sendo, os clubes nacionais, com especial destaque para os três grandes, deveriam apostar numa forte contenção da despesa e evitar realizar investimentos em função de verbas futuras relativas à publicidade e tv. Outro tipo de estratégias mais arriscadas poderão no futuro colocar a viabilidade dos emblemas em causa e sobretudo retirar a capacidade ao futebol português de ombrear com os restantes clubes europeus. Basta recuar até aos inícios dos anos 2000´s, quando em Itália e Espanha (Atlético de Madrid), fruto da queda abrupta das receitas publicitárias, emblemas como a Lazio, a Roma, a própria Fiorentina e mais recentemente a Parma, enfrentaram problemas financeiros gravíssimos, o que lhe retirou competitividade e, nalguns casos os relegou para divisões secundárias.
O futebol português vive claramente acima das suas “possibilidades” e as mais-valias realizadas com a venda de jogadores tornou-se um expediente clássico ainda que insuficiente para assegurar o equilíbrio financeiro. Com passivos enormes, dificuldades crescente no acesso ao crédito e com o aumento exponencial dos custos de aquisição de novas promessas futebolísticas, os clubes nacionais estão condenados a apostar na formação e a reduzir significativamente os gastos, o que dificilmente impedirá um perdão de divida. O futuro do desporto português e sobretudo do futebol nacional estão em risco, o que por si só exigiria um maior empenhamento, por parte da federação portuguesa de futebol e da liga de clubes, no sentido de estabelecerem um controlo rigoroso da evolução financeira dos emblemas.