Fact checking das Exigêndicas do SIM
Com base no publicado pelo Sindicato Independente dos Médicos aqui e aqui convém ter presente algumas coisas tendo em conta os diversos motivos:
1º Motivo) Fica claro que um dos motivos para a greve é um problema dos médicos de saúde pública.
Pelos vistos não conseguiram levar a sua avante em sede de reforma da saúde pública e vai daí saltam fora do processo e fazem uma greve. Seria interessante saber com transparência as verdadeiras razões para este conflito com a DGS, e ter presente que participar numa reforma não é determiná-la a nosso gosto. Embora seja compreensível que estejam habituados a esse registo nos últimos 40 anos.
2º Motivo) Porque ganham mal no sector público.
Os médicos foram a única classe profissional que em plena troika conseguiram um aumento salarial de 43% com um acréscimo de apenas 5 horas de trabalho semanais.
3º Motivo) Porque trabalham mais horas extra do que qualquer funcionário público.
Porque quiseram e sempre fizeram com que assim fosse. As horas extra sempre foram assumidas como um complemento salarial. É ver declarações do próprio presidente do SIM a respeito do gozo de tempo pelos enfermeiros, e não o pagamento em dinheiro, na sequência das horas extra que fazem. Aí, não só assumiu como reforçou a lógica de complemento salarial por via das horas extra. Algo que o acréscimo das 5 horas por mais 43% deveria vir reduzir mas, como se sabe e já se sabia aquando das negociações, teve um impacto nulo nessa matéria, resultando num novo aumento de despesa.
4º Motivo) Porque não há qualquer perspetiva de futuro com carreiras paralisadas.
Aqui têm toda a razão. O fim das carreiras vai significar o colapso do SNS.
5º Motivo) Porque o sistema de avaliação (SIADAP) é um monstro burocrático, de aplicação residual:
Alguma vez quiseram ser/ou foram avaliados? O que fizeram pela implementação do SIADAP? Esta, é o cúmulo do lirismo.
6º) Porque enquanto internos não são respeitados os limites horários adequados à sua formação.
Então mas não são médicos que fazem a gestão do trabalho dos internos? Queixem-se de si próprios, em vez de procurarem bodes expiatórios para os problemas que criam.
A partidarização que fazem das declarações do DGS é, na verdade, o acto falhado que deixa transparecer que a verdadeira razão da contestação e motivo para a greve é do foro ideológico-partidário e não do plano do racional e sindical.
7) “E querem-no sem serem discriminados negativamente quanto aos outros trabalhadores das EPEs, sem faseamentos.”
Uma breve nota – basta não ter memória curta para relembrar que foram os outros profissionais de saúde que tiveram de vir para a praça pública exigir a aplicação do pagamento das horas extraordinárias a todos os profissionais e não só aos que fazem urgência. Caso contrário, estaríamos perante uma reposição do tal complemento salarial apenas para a classe médica e com enfoque nas urgências, como sempre foi e sempre quiseram que fosse.
Resumindo,
Sustentam em greve em dois fundamentos:
- Obter mais regalias pelo exercício de funções de autoridade de Saúde Pública (vamos avaliar a efetividade das mesmas por esse país fora?);
- Repor mecanismos que diminuem a eficácia do SNS e contribuem para uma derrapagem das contas sem quaisquer ganhos associados (neste caso, a melhoria da remuneração das horas extras, que como se sabe não é uma boa prática de gestão, além de promover a continuidade de problemas estruturais no SNS, como seja o excessivo recurso às urgências. Mas também, com estímulos destes, pudera…)
Uma luta mais do que justa seria pela reposição dos valores constantes do 62/79, nomeadamente o justo pagamento das ditas horas de qualidade (noites e fins de semana) efetuadas em horário normal. É no mínimo estranho não haver referencia às mesmas. Ou se calhar não. Porque todos sabem quais são os grupos profissionais que constituem o grosso do contingente que assegura o funcionamento das instituições nestes horários e não interessa estar-se vinculado a fazer noites e fins de semana de horário.