Normalmente é assim. Um artigo de opinião, uma qualquer estatística, um ministro que sugere quotas. E acende-se a polémica. De um lado, as feministas e os feministas cheios de superioridade moral. Do outro lado, aqueles que cultivam o politicamente incorreto e que combatem o radicalismo feminista, ainda com mais superioridade moral. Trocam-se palavras acutilantes, as redes sociais enchem-se de insultos. Depois tudo acalma. A polémica morre. E tudo fica na mesma. Até à polémica seguinte.
A sociedade portuguesa é machista. Como são genericamente as sociedades do Sul da Europa. A condição da mulher hoje, em Portugal, é muito melhor que há quarenta anos. Mas também é evidente que a igualdade de géneros continua longe. O machismo predomina nos ambientes profissionais assim como em muitas das nossas instituições e em muitas das normas da nossa convivência social. Infelizmente as polémicas mudam pouco e, em alguns casos, até favorecem a prevalência do machismo. Faz-se legislação avançadíssima contra o assédio sexual, mas não temos, nem estatísticas, nem conhecimento científico, nem um combate efetivo ao mesmo (apesar do enorme esforço de associações como a APAV).
Vem isto a propósito de uma pequena notícia que saiu há umas semanas, mas ninguém ligou. Anunciava-se o ranking dos melhores advogados na área das empresas. Nos 20 melhores, não há uma mulher. Não estamos a falar da geração dos 70+. Estamos a falar da geração formada depois do 25A e com uma carreira profissional de trinta anos, iniciada e desenvolvida já em plena democracia. Estamos a falar dos anos 90 e dos 2000. Estamos a falar de sociedades de advogados com várias mulheres sócias (informação facilmente disponibilizada na rede). Entre os 20 melhores advogados de negócios, não há uma mulher.
Podemos pensar que simplesmente o ranking é feito por homens machistas. Mas é pouco provável. Até fazem, ao lado, o ranking das melhores advogadas mulheres porque querem valorizar o papel da mulher. Mas ao lado. Porque o ranking dos melhores advogados/homens não está à parte. Portanto se o ranking não é feito por machistas, efetivamente é verdade que a melhor advogada/mulher é pior que o vigésimo advogado/homem. Talvez possa haver alguma justificação tipo Larry Summers, mas como nunca ninguém estudou nada disto em Portugal, não sabemos. Na ausência de explicações sofisticadas complexas, este ranking parece sim ser o reflexo de uma profissão ainda excessivamente machista, mas onde curiosamente há muito tempo predominam quantitativamente as mulheres. Mesmo ignorado pelos meios de comunicação, diria que é um tema que devia preocupar muito a Ordem dos Advogados (que até é liderada por uma mulher) e as sociedades de advogados. Não para pensar em quotas e outras medidas para agradar ao politicamente correto (nem precisam porque, neste caso, a comunicação social ignorou o assunto). Mas sim para estudar e procurar soluções para aquilo que é absurdo em 2016. E se é absolutamente chocante que o ranking de 2016 não tenha uma mulher nos 20 melhores advogados, mais chocante será se o ranking de 2021 continuar assim.