Sobre a Liberdade existem muitas afirmações. Uma, das mais comumente repetida, é “a minha liberdade termina quando começa a do outro”, como se a liberdade fosse assim uma espécie de gozo à vez, em fila indiana, delimitada pela pessoa que nos antecede e pela que nos sucede nesse exercício gozoso. Recuso essa afirmação, ou como dizia o outro, essa afirmação “é cena que não me assiste”.
A minha liberdade não termina quando começa a do outro. A minha liberdade tem que coexistir com a do outro. É essa coexistência que dignifica a liberdade, porque só o é alicerçada no respeito do outro e só na coexistência colectiva é que se realiza na sua plenitude.
Há, também, uma tendência errada de associar Liberdade a Democracia. Embora a primeira seja condição sine qua non para a existência da segunda, não são sinónimos. A Liberdade resulta de uma conquista, de um impulso primordial, a Democracia resulta de uma longa aprendizagem. O 25 de Abril trouxe-nos a Liberdade mas não nos ensinou a Democracia. E isso nota-se muito. Boa Páscoa.
Muito obrigada Mário Nuno pela reflexão de aleluia!
Aprender a Democracia é uma tarefa inacabada num Mundo em Mudança acelerada.
O Mundo do 25 de Abril de 1974 não é definitivamente o Mundo de hoje ... e no entanto muitas vezes parecemos crianças a clamar vitórias em duelos medievais.
Hoje a Democracia escreve-se num Mundo que não tem a simplicidade da dicotomia (esquerda vs direita; ditadura vs democracia; liberdade vs prisão) mas a complexidade de uma matriz de redes sobrepostas, usando frequentemente palavras polissémicas, com vários significados ("amigos"; "partilha"; "diálogo cultural") ... de que nem nos damos conta.
Cara Margarida,
Muitos ainda não perceberam isso da democracia ser uma obra permanentemente inacabada. Nos tempos que correm, confusos, desafiantes, teremos vários atentados à democracia, e até à liberdade, os quais exigirão de todos um esforço suplementar e colocarão à prova as nossas convicções.
Desejos de Boa Páscoa.
Abraço, norberto
Caro Mário Neves,
Concordo totalmente com a forma como descreve a liberdade: "A minha liberdade tem que coexistir com a do outro. É essa coexistência que dignifica a liberdade, porque só o é alicerçada no respeito do outro e só na coexistência colectiva é que se realiza na sua plenitude". É exatamente isso.
O que não percebo é porque coloca isso em contraponto com a frase "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro". Não percebo, porque as duas coisas são sinónimos. Na verdade, essa frase, que é de alguma forma famosa, e que muitos atribuem ao filósofo inglês Herbert Spencer, indica que a verdadeira liberdade respeita o próximo, e o seus direitos.
Na verdade, a própria bíblia, numa carta aos Coríntios 6:12, o apóstolo Paulo afirma: "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma." Isso revela que nós temos a capacidade de fazer muitas coisas, mas que nem tudo o que podemos fazer é bom, porque as nossas ações têm consequências.
Associar liberdade a democracia não está errado, e claro que os conceitos não são sinónimos. Estão associados mas a democracia precisa de ser cultivada com carinho para que seja apreciada, protegida e faça parte daquilo que consideramos essencial, como respirar.
Cumprimentos e boa Páscoa,
Norberto Pires
"Não percebo, porque as duas coisas são sinónimos".
Não, não são:)), Boa Páscoa.
Ah! é uma questão de fé, ok. Sem argumentos não sei debater. Mas aqui ficam alguns: https://www.insonias.pt/liberdade-democracia-capacidade-ouvir-dialogar/
Norberto