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As geringonças

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Quando a direita não tem votos nem deputados para governar explica que é obrigação dos partidos socialistas viabilizarem tal governo. Isso faz sentido para a direita, claro. Mas um dos argumentos usados é que isso responde também às preocupações dos eleitores do centro-esquerda. Porém, temos o exemplo do PASOK que, depois de ser muleta da direita, desapareceu (é verdade que a primeira grande queda foi após a sua passagem pelo governo, mas os 5% resultaram da sua coligação com a Nova Democracia). Agora, em Espanha, diz-se que é a recusa do PSOE em viabilizar o governo de Rajoy que explica o seu desgaste. A mim, parece-me mais que o PSOE está destinado a um futuro eleitoral negro, mas a hecatombe será ainda maior depois de viabilizar o governo de Rajoy.

Fui, pois, procurar exemplos onde um grande partido do centro-esquerda, depois de ser muleta da direita, teve um historial politico e eleitoral radioso. Pedi aliás ajuda na minha página pessoal. E não se encontra nenhum exemplo. Os mais próximos:

a) Partido Trabalhista do Reino Unido, em 1945, depois de ter estado com os conservadores e os liberais, ganhou as eleições. Para além do contexto da Segunda Guerra Mundial, as eleições de 1945 culminaram o período de transição que vinha desde 1930. A ascensão dos trabalhistas como grande partido e o colapso dos liberais.

b) PSI em Itália de 1946 a 1992. O PSI nunca foi o maior partido da esquerda, abaixo dos 14,5%. A exceção foi em 1946 quando obteve 21%. Após estas eleições, o PSI coligou-se inicialmente com a direita (DCI), depois dividiu-se por causa desta coligação governamental e acabou por aderir à Frente Popular em 1948. Nunca mais levantou cabeça! O PCI tornou-se a grande força da esquerda até 1992.

c) SPD em 1965-1969. Nas eleições de 1965, temos apenas três partidos: CDU (48%), SPD (39%), FDP (10%). A zanga entre a CDU e o FDP levou à grande coligação que abriu a oportunidade ao SPD (que nunca tinha governado a Alemanha Federal) e não havendo, naquele momento, nenhum concorrente à sua esquerda. Mas, em 1969, o SPD não ganhou as eleições: CDU (46%), SPD (43%), FDP (6%). Então os “derrotados” montaram a sua gerigonça. E, em 1972, a gerigonça efetivamente ganhou: SPD (46%), CDU (45%), FDP (8%). Podemos assim dizer que foi a gerigonça que permitiu o SPD ganhar eleições por primeira vez. Interessantemente os Verdes só aparecerem muito mais tarde.

d) Partido Trabalhista na Holanda, em 1989-1994. Em 1989, nas eleições legislativas, temos CDA (35%) e PvdA (32%). Lubbers opta por uma grande coligação. Em 1994, as eleições seguintes, PvdA (24%) e CDA (22%). Ou seja, aos socialistas, serem muleta da direita, custou-lhes 8% que foram diretos para outros partidos de esquerda, nomeadamente D66 (que subiu de 8% para 16%). É verdade que ganhou as eleições de 1994, mas porque o afastamento de Lubbers levou a CDA a perder 13% que foram para os liberais (que subiram de 15% para 20%) e outros pequenos partidos do centro. Aliás os socialistas nunca recuperaram de ser muleta da direita em 1989-94. Jamais voltaram a ultrapassar os 27%.

Se o SPD vai beneficiar eleitoralmente da grande coligação no próximo ano na Alemanha, veremos. Isso é futurologia. Em resumo, não encontro um único exemplo em que, após viabilizar um governo da ou com a direita, o maior partido de esquerda tenha tido um grande beneficio eleitoral. Continuarei à procura porque quero apoiar empiricamente a tese da direita de que há um enorme eleitorado de centro-esquerda que prefere um partido socialista muleta da direita do que metido em gerigonças.

 

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