Escrevo umas breves linhas, enquanto aguardo que o autocarro da Carris apareça. Para compensar a espera. Ou pelo menos, para me distrair e tornar a espera menos dolorosa.
Para quem vive e/ou trabalha e/ou visita Lisboa é notória a falta de mobilidade nos últimos meses. Uma cidade sempre em obras. Uma cidade parada. Uma capital interrompida.
Além dos prejuízos imensos causados pelo estaleiro-a-céu-aberto em que o sr. Fernando Medina, o edil, transformou a cidade – uma bela imagem de marca que os turistas levam da nossa capital – é, igualmente notória a espiral de problemas que tem assolado – com particular acutilância – as empresas de transporte público, Metro de Lisboa e Carris.
É neste Miró reinventando Lisboa, os lisboetas, e os turistas, que se desenha uma Lisboa Interrompida. A moldura que quer o Governo, quer o Presidente da edilidade deixam para todos nós, é – parafraseando Paulo Chitas e André Moreira na revista Visão – uns intermináveis frames de uma Lisboa interrompida, onde o síndrome da barata tonta tomou conta de todos nós.
Atrasos e avarias constantes, quer nos autocarros da Carris, quer nas carruagens do Metro; imobilização de frotas; falta de bilhetes e/ou filas intermináveis para tentar comprar os poucos que resistam ainda naquela ou outra máquina de venda automática; más condições de trabalho; …de tudo temos visto e ouvido, sem que esta paz – podre! – aparente tenha tido algum reflexo, pela positiva. Nem para utentes, nem para trabalhadores. Muito menos para as imagens quer de Lisboa, quer das suas empresas de transporte público.
Tempos houve em que, por muito menos, por exemplo, pelo corte em subsídios obscenos como para cortar o cabelo ou para transportar de borla toda a família dos funcionários da empresa, centrais sindicais saíriam à rua com manifestações efusivas em nome da «defesa do transporte público».
Hoje em dia, perante o novo normal de eficaz gestão das empresas de transporte público, “projectando novamente um paradigma de sustentabilidade global que permita assegurar os fundamentos de uma mobilidade urbana servida por um transporte público de grande abrangência, utilidade e qualidade” , as centrais sindicais parecem estar contentes com o desfecho que vamos conhecendo no dia-a-dia da nova mobilidade em Lisboa.
A culpa, como sempre, vem de trás. «Dos outros; dos anteriores». E neste infindável passa-culpas (tão português), o presente que temos não augura um futuro melhor. Pelo contrário.
Termino como comecei. Continuo na paragem. Espero o autocarro da Carris. Alguém viu o autocarro da Carris passar? E o Metro? Atrasados? Não há? Outra vez? O novo normal.
PS: A alegada proposta inserida na fiscalidade verde (que em teoria aplaudo) cujo desenho final, visando permitir a dedução à colecta do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) das despesas com bilhetes ou passes de autocarro, comboio ou metro, e que poderá constar deste OE2017 a apresentar na próxima sexta-feira, ante esta moldura – mantendo-se este status quo – poderá, apenas, constituir o marco final rumo à privatização dos transportes públicos. Será este o “desinteresse” presente?? Veremos…
Foto retirada do website guiadacidade.pt