Nos últimos meses, o superavit da balança corrente (integra fluxo de bens, capitais e serviços) da Alemanha atingiu o astronómico valor de 9% do PIB. Os estudos do FMI realizados em 2011 sugerem que a redução do défice orçamental encontra-se associada a quebras do investimento e do consumo, o que se traduz em excedentes um pouco por toda a Europa. Na mesma investigação, chega-se mesmo à conclusão de que a redução do défice público de 1%, gera um ganho na balança corrente de 0.6%, o que no caso da Alemanha é responsável por mais de 1/3 do superavit de 9% da balança corrente. Esta queda foi induzida pelo próprio governo Alemão, o que está a dificultar a recuperação dos países periféricos, obrigados a equilibrar as suas contas públicas e a implementar políticas de austeridade, sofrendo consequentemente com problemas de crescimento económico e desemprego. Dada a integração financeira dos mercados europeus, um país com elevados excedentes da balança poderá causar uma crise não só nos países periféricos, mas também na própria origem, ou seja a Alemanha, gerando um efeito boomerang altamente perverso. Os instrumentos do BCE estão esgotados, uma vez que as taxas de juro já se encontram em terreno negativo e o programa de compra de activos apresenta-se incapaz de inverter a tendência de queda do consumo e do investimento, restando a política orçamental dos países com maior margem financeira. Neste caso, a Alemanha terá inevitavelmente de incorrer num défice orçamental e aumentar o endividamento, de forma a reequilibrar a zona euro e a ajudar os países do sul da Europa a impulsionar o crescimento pela via das exportações. Especialmente numa altura, em que o FMI prevê um abrandamento do comércio mundial, impulsionados pela quebra da procura das economias emergentes, nomeadamente a China e dos países exportadores de matérias-primas.