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Adriano Maranhão e António Vieira Monteiro: os únicos nomes que conhecemos vítimas da COVID-19. E os outros quem são?

Este artigo de opinião é um desabafo, não é contra nada, nem contra ninguém.

É um desabafo sobre um assunto que me inquieta. A falta de informação. Ou melhor a informação que nos escondem todos os dias.

E não estou apenas a referir-me aos números. Refiro-me sobretudo ao que está a montante dos números e das estatísticas.

Adriano Maranhão foi o primeiro português infectado pela COVID-19. Era canalizador num navio de cruzeiro que estava a fazer uma viagem com milhares de pessoas, entre turistas e tripulação, no seu interior.

No seu resgate envolveram-se o Presidente da República, o Primeiro-Ministro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros e o Presidente da Câmara da Nazaré.

Maranhão foi resgatado do navio, foi tratado num hospital em Okosaki, no Japão. Tudo correu bem.

As televisões dedicaram dezenas de horas com directos, a toda a hora, com Maranhão e a sua mulher Emanuelle.

Tornaram-se figuras públicas durante três semanas.

No dia 10 de Março Maranhão regressou curado a Lisboa. Foi recebido no aeroporto quase com honras de estado pela Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, pelo Secretário Estado Saúde e pelo autarca da Nazaré.

Foi recebido como um herói nacional, com directos de todas as televisões, mesmo com direito a fotografias em pose de estado com a mulher e os três políticos que o aguardavam no aeroporto.

Mas em dois dias o “famoso” casal Maranhão foi conduzido à sua clandestinidade na vila piscatória da Nazaré.

Toda a novela “maranhão” decorreu num momento em que a infecção ainda vinha a caminho da China em direcção à Europa. A pandemia ainda era vendida como um problema dos outros.

Neste momento a preocupação de Governo e do Presidente da República passava por mostrar o seu lado humanista vendendo charme junto dos portugueses.

Em poucos dias o que parecia um problema dos outros passou a ser um problema do país porque começavam a morrer os primeiros portugueses.

Foi por estes dias que conhecemos a identidade da primeira vítima mortal pela COVID-19.

Foi António Vieira Monteiro, presidente do Conselho de Administração do Santander. Faleceu no dia 18 de Março. Tinha 73 anos e terá sido contagiado no decorrer de uma viagem que fez a Itália.

Ou melhor, ficamos também a saber por mero acaso através de Jorge Jesus, a partir do Brasil, numa história mal contada, que faleceu um seu amigo com COVID-19. Foi Mário Veríssimo, enfermeiro, com 80 anos.

Poucos dias depois, a 25 de Março, ficamos a saber da morte por COVID-19 de Hanellor Fischer Cruz, uma professora catedrática com 78 anos, utente do Lar Azilo de São José, em Braga. E esta morte apenas foi tornada pública porque o seu neto apresentou uma denúncia por negligência do Lar junto da Justiça.

E quem são as outras 501 pessoas que morreram infectadas pelo novo coronavírus?

Não quero que seja divulgada qualquer lista com os nomes das vítimas.

Defendo o direito à privacidade. E que este deve ser respeitado.

Porém no mínimo parece-me estranho que, com a excepção das três pessoas acima identificadas, não ter sido tornado público mais nenhum caso pelas televisões.

De mais nenhuma das restantes 501 vítimas da COVID-19 sabemos quem eram, o que faziam, como foram contagiados, como foi identificada a doença ou em que circunstâncias morreram.

As televisões que correm de forma selvagem atrás da informação em primeira mão mudaram a sua atitude.

Será que esta mudança de atitude existiu no estreito respeito pelas vítimas e suas famílias? Desculpem-me mas não creio.

Parece existir um pacto de silêncio entre a comunicação social e o governo sobre as matérias mais sensíveis relacionadas com a COVID-19.

Será bom? Será mau? Não sei. O tempo o dirá mas seguramente este não é um comportamento normal em face de um passado das televisões que é por demais conhecido por todos.

Será que os prometidos apoios pelo governo à comunicação social poderão ser uma forma mitigada de controlar as rádios, os jornais e as televisões? Não sei. Com o tempo encontraremos a resposta.

Os portugueses têm sido enterrados como números quase “numa vala comum nacional”, sem a presença das famílias, nem de nenhum governante tão afoitos em aparecerem noutras circunstâncias trágicas como foram os incêndios em 2017 em que morreram largas dezenas de portugueses.

Talvez tenham aprendido a lição. Agora até têm a desculpa do distanciamento social.

É indiscutível que esta pandemia não tem responsáveis políticos, mas a resposta do Estado e do Governo tem rostos. Agora não é o momento de fazer as contas. Será mais à frente quando conhecermos toda a verdade.

Mas existe um direito que assiste aos cidadãos. O direito á informação. A uma informação verdadeira, concreta, o mais completa possível, mesmo que cruel.

A informação disponibilizada passa apenas por números. Como em tempos de guerra no século passado.

Nesta pandemia as pessoas não são apenas números. Mas é apenas esta a informação que é tornada pública pelo Ministério da Saúde e Direcção Geral de Saúde e partilhada pela comunicação social.

As informações dadas pelas autoridades de saúde são contraditórias, os números são duvidosos quando confrontados com os números anunciados pelos autarcas.

Nem quero falar da “novela” das máscaras. Dos testes que dizem ter sido adquiridos às centenas de milhares mas que depois verificamos que não existem zaragatoas ou reagentes.

A Ministra da Saúde e a Directora Geral da Saúde já disseram tudo e o seu contrário.

Mas não são confrontadas hoje com o que nos disseram na semana passada.

Nas conferências de imprensa são poucos os jornalistas que colocam as perguntas difíceis aos governantes. Aliás é notório que algumas questões são mesmo previamente combinadas.

Mesmo com a comunidade científica as autoridades nacionais de saúde partilham os dados a conta gotas quando seriam fundamentais para a investigação sobre a doença.

Hoje na comunidade científica a nível mundial existem dúvidas se há uma correlação directa entre os vacinados com BCG e o número de infectados pela COVID-19. As coincidências são muitas e transversais a muitos países do mundo em que a BCG foi usada de forma obrigatória como foi o caso de Portugal entre 1965 e 2017.

Não sou cientista. Não me posso pronunciar de forma honesta sobre esta correlação mas existem cientistas que nos podem dar esta resposta.

Na Austrália já estão a decorrer testes na comunidade em 4000 pessoas de modo a confirmar ou infirmar a esta correlação.

Porque espera o governo para nomear uma comissão científica para investigar a relação entre os vacinados pela BCG e a proteção que esta poderá conferir à infecção pela COVID-19?

O esclarecimento desta dúvida poderia permitir um retomar mais rápido e seguro do país á normalidade e por sua vez a retoma da nossa economia.

Será que têm medo que o “milagreiro” seja Salazar? Não tenham. O que está em causa é o superior interesse do país e não quaisquer questões de regime ou natureza ideológica.

Este fim de semana foi imposta a lei da rolha pelo governo. As autoridades locais de saúde foram proibidas de partilhar os dados com os respectivos autarcas. E o que a seguir virá?

O que nos escondem os governantes? Porque fazem tanto segredo de informação que deveria ser pública, completa e verdadeira?

O tempo é implacável. Mais cedo ou mais tarde teremos as respostas a muitas perguntas que ficaram sem resposta mas também a muitas outras questões que ficaram por fazer.

Paulo Vieira da Silva

Gestor de Empresas – Licenciado em Ciências Sociais – Área de Sociologia

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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