A importância de conhecer os mecanismos de funcionamento da televisão é sublinhada numa análise sobre a construção da imagem pública de Lula nas eleições presidenciais brasileiras de 2002 quando é afirmado que “ a TV trouxe algumas consequências que aumentam a relevância dos Cenários de Representação Política na disputa política. São elas: A quebra da necessidade da conexão entre presença física e experiência (a TV é que constrói o real); a quebra da impessoalidade e distância entre fatos e pessoas, que havia em outros meios; confusão entre realidade e ficção e a TV como construtora da cultura mítica da atualidade.” (Bezerra e Silva, 2006)
Por outro lado na verdade “O jornalismo explora (…) a política não institucional que se desenvolve nas acções colectivas e nos movimentos sociais.” (Fernandes, 1999). Para além disto, e ainda de acordo com Teixeira Fernandes, a influência dos media sobre o campo político faz-se sentir, também, na medida em que os próprios jornalistas têm hoje poder para imporem os grandes temas de discussão pública aos políticos e a todas as outras pessoas. Trata-se do fenómeno conhecido como agenda-setting. Este quer dizer que são os media que, ao prestarem atenção a determinados temas e não a outros, definem os temas da actualidade, isto é, os temas sobre os quais é importante ter uma opinião. Aliás, não podia estar mais de acordo com Teixeira Fernandes quando este afirma que “Os meios de comunicação social alteram as práticas políticas.” (Fernandes, 1999).
Também Bourdieu fala-nos do papel da televisão que oculta, mostrando: i) coisas diferentes daquelas que mostraria se fizesse aquilo que supostamente faz – informar; ii) o importante, mas tornando-o insignificante; iii) o importante, mas construindo-o de uma forma que não corresponde à realidade. A televisão que pretende ser um instrumento de registo, torna-se num instrumento de criação de realidade. Assim e para Bourdieu caminhamos “(…) para universos em que o mundo social é descrito-prescrito pela televisão, em que esta se transforma no árbitro do acesso à existência social e política.” (Bourdieu, 1997).
Em toda esta análise temos que ter sempre presente que o campo jornalístico é regido pelos níveis de audiências. Este cenário reflecte a influência que o campo económico, nomeadamente a sua lógica de funcionamento, tem sobre o campo jornalístico. Isto está bem explícito quanto Teixeira Fernandes afirma que “O campo jornalístico, por mais que queira obedecer apenas a critérios de objectividade, não deixa de estar à prova do veredicto do mercado, uma vez que a força da sua capacidade, na formação da opinião pública, depende do público que consegue atrair.” (Fernandes, 1999).
Pensa-se em termos de sucesso comercial, como se o capitalismo se tivesse apoderado do campo jornalístico, fazendo com que a sua estrutura e os seus conteúdos sejam um reflexo da lógica comercial. As próprias produções culturais estão dependentes das audiências, não interessando o seu conteúdo, mas sim a certeza de elevados níveis de audiências. Estas contradições geram tensões entre os que gostariam de defender a liberdade do mundo jornalístico em relação à lógica comercial e os que se submetem a ela. (cont.)