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A “DITADURA” DO POLITICAMENTE CORRECTO

Há muito que escrevo e reflicto sobre a temática do “politicamente correcto”.  Aliás, iniciei um ciclo de conversas com algumas personalidades – na sua esmagadora maioria meus amigos – chamada precisamente “Conversas Politicamente Incorrectas – Cortando a Direito”.

Hoje o escritor Mário Carvalho dá uma entrevista à minha querida amiga Isabel Tavares em que aborda “o politicamente correcto” classificando-o como insuportável.

Esta temática tornou-se numa das minhas preocupações crescentes porque, não raras vezes, passou a ser utilizada de forma sub-reptícia condicionando o pensamento e a própria liberdade individual.

Esta “ditadura” de que fala Mário Carvalho acaba por ser uma forma de orientação do pensamento porque empurra os cidadãos para tenderem para uma opinião do “bem parecer” ou do “ficar mais bonito” correndo atrás de uma determinada corrente que nos é “vendida” pelos media como a mais correcta tornando-a desta forma aparentemente maioritária.

Não  deixando muitas vezes de ser apenas ilusoriamente maioritária porque é muito mais confortável tender a concordar com a maioria do que discordar. Até porque discordar ou ter um pensamento próprio, em determinados círculos, pode ter um preço muito elevado a pagar.

Por isso, o “politicamente correcto” transformou-se, também, numa via de ascensão rápida nos partidos e na vida política.

Porém, não deixa também de ser curioso que o “politicamente correcto” tenha surgido como um movimento da esquerda na defesa de grupos discriminados, nomeadamente em razão do género, da orientação sexual ou da cor.

Esta temática leva-nos obrigatoriamente para uma reflexão sobre as democracias em que vivemos.

Uma democracia não consegue sobreviver muito tempo por pensamentos dominados e condicionados pelo “politicamente correcto”.

Uma verdadeira democracia apenas existe quando o pensamento é verdadeiramente livre.  Não foi por acaso que o antigo político, escritor e também Prémio Nobel da Literatura, Mario Vargas Llosa, nos disse que “a democracia tem que ser tratada com muito cuidado”.

A respeito do pensamento, hoje uma actividade desencorajada por toda uma prática educacional que se tornou dominante incluindo nas universidades, escreveu a escritora francesa Viviane Forrester no seu ensaio “L’Horreur économique” que “Não há actividade mais subversiva do que o pensamento. Nem mais temida, nem mais difamada, e isto não se deve ao acaso: o pensamento é político. Daí a luta insidiosa, cada vez mais eficaz, hoje mais do que nunca, contra o pensamento. Contra a capacidade de pensar.”

Interessante também a reflexão de Nick Cave sobre o “politicamente correcto” que comparou com os piores aspectos de uma religião designando-a mesmo como a” religião mais infeliz do mundo”.

E quando falamos de religiões, mesmo que seja na abordagem feita pelo músico australiano, não é despiciendo sermos encaminhados para caminhos que nos levam para os fundamentalismos que concorrem sempre para o enfraquecimento da democracia.

Democracia, liberdade e pensamento é uma triologia que deverão andar sempre de mãos dadas.

Estando em causa a liberdade ou o pensamento não duvidemos que a democracia está simultaneamente também colocada em causa.

Não podemos cair no erro que estas três conquistas são dados adquiridos. Estão sempre em risco e sob ameaça. É suficiente olhar para a história da Europa do século XX.

Nas últimas décadas o “politicamente correcto” tornou-se numa arma poderosa contra o pensamento e a liberdade individual de cada cidadão.

E sendo uma arma usada contra o pensamento e a liberdade obriga-nos todos, mais do que nunca, a estarmos mais vigilantes sobre o caminho que vão trilhando as democracias.

Paulo Vieira da Silva

Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

 

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