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O coração duro

Ela não perdoa. Coração frio, calculista. Mesmo com toda sua família pedindo para rever os fatos, pois é sua própria irmã. Implacável diante do erro alheio e generosa com os próprios defeitos. Ela não tem piedade e, compaixão é uma palavra que não existe em seu dicionário. Intolerância e raiva são comuns em seu cotidiano. Reclama que é infeliz mas não muda.
O problema da intolerância não é novo. Descrito em Isaías no antigo testamento, nos rituais da alcova de Sade, ou em Hamlet  de  William Shakespeare que diz: “impiedade  é a dor dos fracos”…covardia não é rara visto que tal tipo não encara de frente um problema. Aqui é o ponto em que o racionalismo é evidente. Pessoas de coração duro são extremamente racionais tendo justificativa para quase tudo, até para seu sofrimento.

A mistura entre sadismo, vontade de vingança e egoísmo dão sabor a este caldo de problemas. Pessoas com coração duro não aprendem a não ser pelo sofrimento. Criados para a vivência do egoísmo personificam a essência do capitalismo selvagem, no qual tudo é permitido para dar se bem: agressividade, falta de ética, ausência de caráter tudo isto é implantado pelo egoísmo. Pessoas assim vivenciam relacionamentos utilitários mantendo perto por períodos quem pode oferecer melhor o que necessitam. Posteriormente são descartados sem piedade.
Ao longo de minha vida profissional como analista e psicólogo clínico vi vários casos de pessoas intolerantes. Todos com o discurso de justiça, que são vítimas sociais, ou infelizes pelo acaso da existência. São os que reclamam de injustiça projetando no outro as falhas que cometem. Por vivenciar um ciclo amplo de ruínas e aproveitamento, egoísmo
e tirania muito do que almejam não dá certo. E com isto mais raiva e egoísmo.
Um dos aspectos que particularmente acho surpreendente é sua certeza. A distorção feita sobre os fatos da existência os posiciona em uma situação complicada, especialmente quando seu ponto de vista é superior a de outra pessoa, mesmo quando errados. Pessoas assim tornam se amargas, tristes, sem brilho no olhar e tudo que pretendem dá errado. Relacionamentos são comprometidos, negócios fechados e solidão uma marca em sua vida.
É possível auxiliar pessoas assim. Particularmente gosto de recomendar trabalhos assistenciais nos quais a pessoa resignifica o sentido das palavras tolerância e amor. Estas atividades extinguem com o tempo o egoísmo e o materialismo. Mas isto tudo depende da vontade da própria pessoa que vive intenso sofrimento e raiva. Ser ou não ser eis a questão…
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