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Corrupção, uma epidemia que avança no País

“Há uma epidemia de corrupção que grassa pela sociedade.” Estas foram algumas das palavras fortes que o General Ramalho Eanes proferiu ontem durante a conferência organizada pela SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico, que teve lugar em Lisboa.

O antigo Presidente da República fez um diagnóstico pessimista mas realista sobre o País.

Eanes refere-se a “uma crise de representação” que coloca em causa a própria democracia sublinhando que “quando a moral pública se fragiliza” abre-se a “porta à demagogia, corrupção e justicialismo e é isso que ameaça acontecer, pela culpa das instituições políticas, mas também da sociedade civil, não há uma crise da democracia, nem do regime, mas há uma crise de representação política. Muitos dos eleitores não se sentem representados pelos partidos políticos”.

O General Ramalho Eanes fala de um “encastelamento que tolda a forma como se organizam a Administração Pública, e as empresas públicas, que têm sido colonizadas partidariamente afastando os mais competentes e desmobilizando os melhores quadros” sublinhando que “os critérios do saber, da competência e do mérito foram, por vezes, substituídos pela fidelidade partidária”.

O antigo Presidente da República concretiza estas ideias afirmando que existe “cultura de complacência” para com a corrupção,  defendendo uma reforma do sistema eleitoral e da administração pública que está colonizada pelos partidos do arco do poder.

Estas duras criticas de Ramalho Eanes surgem precisamente uma semana após ter declarado o seu apoio ao Manifesto X, um movimento que integra 25 cidadãos independentes, liderado pelo Director da Microsoft, Pedro Duarte.

Mas eu vou mais longe que o General Ramalho Eanes.

A corrupção é o maior imposto que os portugueses pagam todos os dias. Um imposto de valor muito superior ao que pagamos de IRS, IVA, IMI ou o que as empresas pagam de IRC.

É um ”imposto” que tem uma larga cadeia de intervenientes, em que cada um vai ficando com uma ” percentagem do negócio ” ou melhor  dizendo da ” negociata ” que acaba por se repercutir de forma muito onerosa no preço final da casa que compramos, no custo da autoestrada que percorremos, dos medicamentos que usamos, do hospital a que recorremos, na escola ou universidade que frequentam os nossos filhos. E isto são apenas alguns exemplos.

A corrupção mina a Democracia, distorce o funcionamento dos mercados e a capacidade de gerar e distribuir a riqueza.

Quando somos tolerantes e até cúmplices com a corrupção no lugar de a denunciar e repudiar o que poderemos esperar do País?

Esta epidemia de corrupção que fala o General Eanes tem avançado de forma veloz porque a sociedade, que somos todos nós, tem sido permissiva com a mesma e pouco exigente com os políticos.

Urge uma cidadania forte capaz de travar a fundo o avanço da corrupção. Não duvidem que, em grande medida, este combate está nas nossas mãos. Acreditem que não podemos desistir  se queremos ainda ter um País com futuro.

Paulo Vieira da Silva
Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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