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A social-democracia naufragou ao largo da praia de Espinho

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Afinal para que serviu o último Congresso do Partido Social Democrata? Parece que apenas para cumprir calendário. O PSD, após as 15 horas do dia 3 de Abril, mantem-se exactamente igual ao PSD das 21 horas do dia 1 de Abril.

Ao fim destes três dias, pelo que consegui ver, ler e ouvir, confesso que não consegui perceber que oposição Pedro Passos Coelho vai fazer no futuro para reconquistar a simpatia e o apoio dos portugueses.

O Governo vai fazendo o seu caminho com o PS à frente na condução da “ geringonça “ e o BE e o PCP orientando e corrigindo, sempre que necessário, o trajeto no banco traseiro.

António Costa, o inventor da “ geringonça “ tem demonstrado ser um hábil “ maquinista “. O primeiro-ministro conhece bem a inovadora máquina que inventou, por isso, sabe melhor que ninguém que bloquistas e comunistas não o vão deixar na estrada.

Entretanto a “ geringonça “ conseguiu ver-se livre de Cavaco e parece contar com o apoio do novo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

O congresso de Espinho mostrou que este PSD liderado por Pedro Passos Coelho não tem qualquer capacidade para se reinventar, muito menos para se redefinir ideologicamente. Hoje percebe-se que a expressão “ social-democracia, sempre “ não passou de um mero “ slogan “ de campanha para consumo interno.

Confesso que tinha a secreta esperança que Passos Coelho tivesse aprendido com os erros do passado, que iria emendar a mão, neste congresso, seguindo a matriz social-democrata que esteve na génese da fundação do PSD e simultaneamente substituindo alguns dos protagonistas do último ciclo político. Infelizmente enganei-me redondamente.

Foi notório que com Passos Coelho e a sua equipa afastaram-se todas as figuras de referência do PSD. Por Espinho não passaram Pinto Balsemão, Rui Machete, Valente de Oliveira, Amândio de Azevedo, Fernando Nogueira, Durão Barroso, Morais Sarmento, entre outros destacados militantes.

O que se ouviu foi um estridente José Pedro Aguiar-Branco mandar “ calar para sempre “ aqueles que livremente foram ao congresso discordar da linha política seguida pela actual direcção política num tom pouco simpático quase a roçar o norte-coreano.

Os principais opositores internos, Pedro Duarte e José Eduardo Martins, que deram a cara, neste congresso, por ideias e soluções diferenciadoras ainda são jovens, tendo sido, em minha opinião, demasiado brandos para com a direcção liderada por Passos Coelho. Tenho consciência que a construção de uma alternativa política forte implica a disponibilidade dos próprios, tempo e apoios políticos para se assumirem como uma verdadeira alternativa interna e no País.

As também prometidas mudanças de protagonistas foram puras operações de cosmética, a que acresce a inexplicável escolha de Maria Luís Albuquerque para vice-presidente do PSD, muito contestada pelos congressistas, tendo-se traduzido naquela que foi a pior votação desde que Passos lidera o Partido Social Democrata.

Os discursos de Pedro Passos Coelho explicaram tudo o resto, repetitivos, sem novidades, sem chama, no mesmo registo que tem usado desde a noite de 4 de Outubro. Apenas com a diferença que finalmente percebeu que o PSD está na oposição não se vislumbrando eleições legislativas nos próximos tempos. Menos mal, mas infelizmente sem quaisquer consequências politicas.

Assim este congresso abriu também uma janela de oportunidade de crescimento político, ao centro, para Assunção Cristas e para o CDS com a manutenção da total indefinição ideológica do PSD.

António Costa deve ter ficado muito mais tranquilo porque não será este PSD a causar-lhe problemas. Terá apenas que estar vigilante com a execução do Orçamento de Estado porque os verdadeiros problemas poderão vir de fora, mais concretamente de Bruxelas, senão conseguir cumprir as metas orçamentais.

Apesar deste ter sido um congresso, sem sal, sem vigor, sem chama, acabou por contar uma estrela maior que não teve medo de aparecer, nem de ofuscar o actual líder. Em Espinho, tal como em muitos outros congressos, a estrela voltou a ser Pedro Santana Lopes. O ex-primeiro-ministro gosta demasiado do PPD/PSD para assistir pela televisão à reunião magna do Partido sentado em casa num confortável sofá.

Um dia ficou famosa uma sua expressão quando afirmou que “ vou andar por aí ”. E a verdade é que Pedro Santana Lopes andou sempre por aqui.

Os militantes do PSD gostam de Santana e Santana Lopes gosta dos militantes e dos congressos do PSD. No seu discurso mostrou que está em excelente forma política e ainda sobrou-lhe tempo para elogiar Passos Coelho e Marcelo. Santana é neste momento o único e verdadeiro senador do Partido que não tem limite de tempo para falar num congresso. E este estatuto é intocável!

Mas não desceu do palco do congresso sem usar a expressão “ Keep Cool “, muito em voga mas ainda pouco utilizada no vocabulário político, referindo-se claramente às eleições para a Câmara Municipal de Lisboa.

Desta forma simpática e inovadora deixou ficar o aviso à navegação interna e externa. Neste caso, em concreto, para Passos Coelho que parece estar a ponderar uma eventual candidatura à autarquia da capital, bem como a Fernando Medina e ao Partido Socialista. É como diz o nosso sábio povo “ para bom entendedor meia palavra basta “!

Numa análise final deste congresso pode-se dizer que,  em terra de pescadores e mar, a social-democracia naufragou ao largo da praia de Espinho aguardando por um salvador que seja capaz de a resgatar para terra firme.

Não sou daqueles que facilmente desisto. Continuarei a dar o meu contributo no sentido do partido se reencontrar consigo próprio. Não abdicarei de livremente dizer e escrever o que penso porque primeiro estará sempre o superior interesse do meu País.

Continuo acreditar que aparecerá o homem que resgatará a social-democracia como base ideológica do meu PPD/PSD. Eu acredito!

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